por Vinicius Torres Freire FOLHA DE SÃO PAULO
Suponha-se que Dilma Rousseff não evapore em um ataque atômico (impeachment) ou não se renda incondicionalmente (renúncia).
A fim de evitar a derrota da morte lenta, conviria ter um plano de
guerra e de reconstrução, pelo menos um projeto que vá além do mero
rescaldo do desabamento das políticas econômicas de Dilma 1. Até o
momento, a presidente apenas debanda, bate em retirada, negocia
armistícios em condições subalternas ou não toma a ofensiva em assuntos
essenciais.
O que tem feito ou vai fazer?
A ofensiva "progressista".
O governo aproveitou uma deixa com seu protesto contra a mudança da
maioridade penal, mas haverá mais saudações a bandeiras "progressistas".
Dilma deve aparecer ao lado de movimentos de direitos humanos e
"minorias". Deve conversar com centrais sindicais a fim de
reconvertê-las ao governismo, não se sabe bem como, dado o arrocho.
A ofensiva "contrapropaganda".
O governo acredita que seu grande problema é de imagem, de imagem
distorcida e que essa distorção consiste de ser pintado de corrupto ou
conivente. Assim, vai se esforçar um tanto mais para propagandear a
ideia de que este é um governo em que as instituições limpam o país.
A ofensiva "pacificar o PMDB".
O governo destituiu o PT de negociações políticas e distribuição de
cargos e outras prebendas, agora dever e direito de Michel Temer. Dilma
partiu o pão com Eduardo Cunha, presidente da Câmara, e sabe-se lá mais o
que ainda vai partilhar. Procura amaciar Renan Calheiros. Continuam
discretamente as tratativas para dar uma mãozinha a parlamentares
pendurados na Lava Jato.
Ofensiva "Petrobras".
A empresa vai apresentar balanço. Arrumou uns empréstimos exóticos para
fechar o caixa neste ano. Desmonta à matroca e com cara de paisagem o
projeto Dilma 1. No lugar de investir e se endividar em ritmo
doidivanas, a estatal vai vender ativos e cortar investimentos. A
política de conteúdo nacional morre sob o próprio peso. Na semana
passada, um ministro chegou até a dizer que a Petrobras não seria mais
parte obrigatória das sociedades de exploração do pré-sal, pilar do
modelo Dilma 1 para o petróleo. Mesmo aos trancos e barrancos
enlameados, a empresa despiora um tico.
Ofensiva "acordão das emprei- teiras".
O governo procura dar um jeito de evitar a recuperação judicial de mais
empresas, de evitar que percam o direito de fazer negócios com o setor
público, enfim, de dar um jeitinho nesse desastre que pode comprometer,
entre outras coisas, o programa de concessões de infraestrutura.
Isso tudo é pouco mesmo para um governo diminuído de poder. Para
começar, conviria haver logo um plano econômico que vá bem além do
"ajuste", o qual Dilma aceitou de modo passivo, à beira da ruína, sem
abdicar de ideias equivocadas.
Não se sabe se a presidente compreende o problema, se resiste à reforma
por teimosia ou mesmo se tem condições de formulá-la. Talvez acredite
que, "passado o ajuste", o Brasil "volta a crescer" e Dilma 2 até rasga a
fantasia, voltando a ser Dilma 1. Tratar-se-ia de delírio, ilusão
contraproducente até para os interesses da presidente. Sem projeto novo,
está sob risco mesmo a convalescença arrastada da economia. É preciso
aparecer uma Dilma 3.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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