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10:53
ANDRADEJRJOR
EDITORIAL O ESTADÃO
É sabido que a proposta
do PT para "regulamentar a mídia" nada mais é do que a intenção de
submeter a imprensa ao governo petista e ao próprio partido. Os petistas
douram a pílula para convencer a opinião pública de que não se trata de
uma forma de censura e, eventualmente, podem confundir os incautos. No
entanto, quem ainda tiver alguma dúvida sobre qual é realmente o
espírito que preside esse projeto do partido basta prestar atenção ao
que disse o presidente da agremiação, Rui Falcão, em recente reunião com
parlamentares do PT na Câmara: o caminho, sugeriu ele, é asfixiar os
veículos de comunicação que ousarem portar-se com independência e
espírito crítico em relação ao governo petista.
Segundo relatos
de participantes do encontro, Falcão defendeu que o governo corte a
verba de publicidade destinada a veículos de comunicação que, no seu
entender, "apoiaram" e "convocaram" as manifestações populares do último
dia 15. Para o presidente do PT, é necessária "uma nova política de
anúncios para os veículos da grande mídia". Pode-se depreender que essa
"nova política" seja, simplesmente, colocar anúncios do governo somente
em jornais e emissoras de TV que sejam camaradas.
Para demonstrar
a urgência de uma nova política de distribuição das verbas
publicitárias, Falcão argumentou que o clima beligerante contra Dilma e o
PT levou até mesmo a TV Record, segundo ele um veículo "simpático" ao
governo, a participar da suposta mobilização nacional por parte da
imprensa para incitar os protestos de rua - mas isso, disse Falcão,
ocorreu somente em razão da "briga por audiência". O importante a se
observar é que, ao mencionar a suposta existência de veículos
"simpáticos", Falcão demarca o território em que o PT julga disputar a
guerra da comunicação: há os amigos e os inimigos. Aos primeiros, tudo;
aos segundos, a danação.
Falcão sugeriu que a estratégia usada
até agora para enfrentar o que julga ser uma campanha orquestrada pela
grande imprensa para desacreditar o partido e o governo não tem dado
resultado. "Não se enganem. O monopólio da mídia não será quebrado
apenas nas redes sociais. Isso é uma ilusão", disse o presidente
petista, referindo-se à comunidade de blogueiros e ativistas digitais
montada para defender o PT e agredir sistematicamente a imprensa livre.
Por
um momento, os estrategistas do partido julgaram que a guerra da
comunicação seria ganha no ambiente virtual. No entanto, como reconheceu
um documento da Secretaria de Comunicação Social que criticou a
política oficial de comunicação, "o governo e o PT passaram a só falar
para si mesmos".
Mas o PT não perdeu espaço apenas nas redes
sociais; parece ter perdido também as ruas, lugar onde reinava. Isso
explica a aflição de Falcão e de seus companheiros. Como sempre acontece
com aqueles que interpretam o mundo exclusivamente por meio da
ideologia, e não da razão, os petistas atribuem esses reveses não aos
erros que o partido e a presidente Dilma Rousseff cometeram, mas a uma
grande conspiração das "elites" para derrubar o "governo popular".
Em
flagrante estado de negação, Falcão atribuiu o enorme sucesso das
manifestações do dia 15 "exclusivamente" ao suposto trabalho da "grande
mídia" - responsável, segundo ele, por tirar as pessoas de casa e por
inflar o número de participantes.
Com isso, o presidente do PT,
bem como a maioria de seus pares, parece ter se convencido de que nada
há de errado no País, que tudo vai às mil maravilhas e que, se não fosse
a imprensa "golpista" a conclamar os brasileiros a se manifestar, a
população não teria ido às ruas.
A receita petista para resolver
esse problema é simples: tratar as verbas de publicidade do governo como
se fossem do PT. O princípio da impessoalidade, que deve nortear
qualquer administração pública - e está explicitamente inscrito na
Constituição -, é estranho a um partido que se acredita proprietário do
poder. Por enquanto, Dilma tem resistido aos insistentes apelos do PT
para que submeta a imprensa aos desígnios autoritários do partido.
Espera-se que seu enfraquecimento político não a faça capitular.
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