Carlos Chagas
As sucessivas derrotas do governo nas iniciativas e votações na Câmara e no Senado traduzem-se no entrevero entre Eduardo Cunha e Renan Calheiros, de um lado, e Dilma Rousseff, de outro. Parece briga de dona Mariquinhas e do Maricota na disputa sobre qual das duas dispõe de goiabeiras mais carregadas em seus quintais. A saída, para o governo, seria esperar que o Supremo Tribunal Federal denunciasse os presidentes da Câmara e do Senado como envolvidos no escândalo da Petrobras, mas esse procedimento, se concretizado, levará meses. A pergunta que se faz é se a presidente Dilma aguentará tanto tempo. Não que possa prosperar a tese do impeachment, muito menos a esperança de que Madame poderá renunciar. As duas hipóteses não são consideradas.
Por isso o impasse só se resolverá por uma trégua. Mesmo que a presidente mande hastear uma bandeira branca no mastro do palácio do Planalto, os presidentes da Câmara e do Senado imporão condições para a paz, já que vem ganhando a guerra. A primeira seria maior e permanente participação do PMDB nas políticas públicas e nas decisões de governo. A outra, que alargassem seus espaços de poder na Esplanada dos Ministérios.
De início o Lula sustentou que a sucessora se aproximasse mais do PMDB e de seus caciques. Agora parece que mudou. Para ele, a presidente não perdeu a capacidade de ferir, mesmo ferida. Para celebrar um armistício, a parte mais fraca precisa demonstrar força. Sendo assim, caso aprovada a proposta de Renan, de limitação máxima de 20 ministérios, o PMDB deveria ser o mais prejudicado. Afinal, Dilma ainda detém a caneta e o Diário Oficial.
DESGASTE DUPLO
O que mais preocupa Executivo e Legislativo é o desgaste de ambos frente à opinião pública. Equivalem-se os índices de desaprovação desses dois poderes. Se Dilma é vaiada onde comparece, apesar da blindagem, deputados e senadores já não usam mais os broches de lapela, identificadores de suas condições. A sombra da desobediência civil ainda não cobre a Praça dos Três Poderes, mas quem perscrutar o horizonte sentirá seus sinais. O governo aumenta impostos, deixa os preços subirem e nada faz para conter o desemprego. O Congresso atenua e coíbe algumas maldades, mas nenhuma solução apresenta para corrigir os estragos. Por tudo isso, farão o quê, caso algum aventureiro propague a ideia de ninguém pagar Imposto de Renda?
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