Aécio Neves FOLHA DE SÃO PAULO
O Brasil corre o risco de ter um longo ciclo de três anos
(2014-2015-2016) de crescimento médio muito próximo de zero ou até mesmo
negativo. Esse desempenho medíocre do país só ocorreu em três momentos
da nossa história recente: na Grande Depressão (1929-1931), na crise da
dívida (1981-1983) e no Plano Collor (1990-1992).
Fato é que, desde o início de dezembro de 2014, as projeções de
crescimento da economia brasileira passaram a cair todas as semanas. Com
a piora do cenário, já se trabalha com um resultado para este ano de
uma queda do PIB próxima a 1%. Mas muitos já apostam em uma redução do
PIB entre 1,5% e 2%.
Depois de negar peremptoriamente a necessidade de ajuste durante a
campanha eleitoral, o governo manda ao Congresso um conjunto de medidas
muito mais duras do que seria necessário se tivesse agido no tempo
correto e, por exemplo, controlado o crescimento desenfreado do gasto
público.
Um ajuste fiscal de mais de R$ 100 bilhões, como o prometido, em um
contexto de recessão agravado pela crise política e pela crise de
corrupção na Petrobras, transforma em grande frustração os compromissos
que o atual governo assumiu para ganhar as eleições. Não será,
inclusive, um ajuste rápido como se apregoa, mas vários anos de aperto
fiscal em uma conjuntura de baixo crescimento.
A verdade é que o ajuste fiscal deveria ser apenas uma parte de um
programa mais amplo de crescimento e de reformas estruturais discutido
com a sociedade civil e pactuado pela presidente da República.
O quadro poderia ser completamente outro se não houvesse uma grave crise
de confiança, que afugenta o investimento privado e alcança, agora,
segundo indicadores da Fundação Getúlio Vargas, os níveis mais baixos
desde o auge da crise financeira mundial de 2009.
Temos hoje um governo sem qualquer diálogo com a sociedade, que faz o
que quer, como quer e quando quer. Sem um plano de desenvolvimento, e
eleito com base em promessas que não serão cumpridas, entrega ao país um
ajuste rudimentar que terá um custo muito elevado para a sociedade,
pois será baseado na redução de direitos dos trabalhadores, cortes do
investimento público e aumento de carga tributária.
A questão que parece ser central agora é que é muito difícil fazer
ajustes de fundo, consistentes, em um governo politicamente fraco. Em
muitos casos, crises podem virar janelas de oportunidade para se criar
um consenso mínimo a favor de uma agenda mais ampla de reformas. Hoje
acontece o contrário: o governo produziu uma crise macroeconômica de
grandes proporções e vai esgotando a cada dia a sua credibilidade e a
sua capacidade de governança
EXTRAÍDA DOBLOGROTA2014
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