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09:13
ANDRADEJRJOR
EDITORIAL O ESTADÃO
Com a rápida e dura
resposta que deu à presidente Dilma Rousseff, aprovando no mesmo dia em
que foi apresentado o projeto de lei complementar que fixa prazo de 30
dias para o governo federal mudar os indexadores das dívidas de Estados e
municípios, aliviando-as de maneira significativa, a Câmara dos
Deputados não apenas impôs mais uma severa derrota política ao Palácio
do Planalto. Com sua decisão, a Câmara como que obriga a presidente
Dilma Rousseff a pagar pelos erros que cometeu no seu primeiro mandato,
ao propor a aplicação de um indexador que torne menos pesado para os
devedores o pagamento da dívida renegociada com a União. Na época, ela
se recusava a admitir a dramática situação financeira de seu governo,
que agora precisa ser corrigida com medidas duras, entre as quais o
adiamento das facilidades para o pagamento das dívidas estaduais e
municipais.
A situação só não ficou pior para o governo porque,
depois de reunião do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, com um grupo de
senadores, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), concordou
em não colocar o projeto em votação imediatamente. Isso dá tempo ao
Planalto para pelo menos tentar absorver sua derrota. Mas, mesmo assim, o
presidente do Senado manteve a pressão sobre o governo. Lembrou que, em
caso de veto da presidente ao projeto, o Congresso tem a palavra final.
Na
terça-feira passada, a presidente havia afirmado não haver "espaço
fiscal" para aliviar as dívidas dos Estados e municípios. Respondia ao
prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PMDB), que na véspera havia
obtido liminar na Justiça Federal para que a dívida do município passe a
ser corrigida pelos indexadores autorizados pela Lei Complementar n.º
148, aprovada em novembro de 2014 com o apoio do governo.
Pouco
depois, o deputado Leonardo Piciani, líder do PMDB e, portanto, da base
aliada do governo, apresentou o projeto fixando prazo para o governo
renegociar as dívidas. A Câmara agiu, então, com inusitada rapidez. Em
menos de 24 horas, aprovou por 389 votos a favor e apenas 2 contra - o
que não deixa dúvidas quanto ao maciço apoio, vindo até do PT - o
projeto que, além de impor prazo exíguo ao Executivo para a aplicação
das novas condições de pagamento das dívidas estaduais e municipais,
dispensa essa aplicação de regulamentação prévia. Esgotado o prazo, diz o
texto aprovado, "o devedor poderá recolher, a título de pagamento à
União", o montante corrigido pelo novo indexador, "ressalvado o direito
da União de cobrar eventuais diferenças que forem devidas".
A lei
complementar em vigor autoriza a União a adotar o Índice Nacional de
Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mais 4% ao ano ou a taxa Selic - o que
for menor - como índice de correção das dívidas, em substituição ao
Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) mais 6% ao ano
(ou 9%, no caso de não cumprimento de condições contratuais).
Embora
se apliquem a dívidas de 7 Estados e cerca de 180 municípios, as regras
beneficiam especialmente a Prefeitura de São Paulo, atualmente ocupada
por Fernando Haddad, companheiro de partido da presidente Dilma
Rousseff.
De acordo com números que o ministro da Fazenda
apresentou a senadores, a mudança do indexador reduzirá em R$ 163,1
bilhões o valor que a União tem a receber até 2040. No caso da
Prefeitura paulistana, o saldo devedor, de R$ 60,5 bilhões, será
reduzido em RS 36,4 bilhões, com a redução proporcional dos pagamentos
anuais.
A redução dos compromissos com a dívida permitiria à
Prefeitura aumentar seus investimentos, o que representaria uma grande
ajuda para o prefeito Haddad em sua corrida pela reeleição. Mas tendo,
afinal, se dado conta das dimensões da crise fiscal, a presidente Dilma
Rousseff percebeu que a concessão de um benefício dessas dimensões,
nesse momento, tornaria ainda mais difícil o ajuste fiscal, já ameaçado
pela resistência que enfrenta até mesmo no PT. Por isso, ela quer adiar a
aplicação da medida. Enfraquecida, parece ter cada vez menos condições
para fazer isso.
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