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16:57
ANDRADEJRJOR
ELIANE CANTANHÊDE O ESTADO DE SÃO PAULO
A ida de um
ex-tesoureiro do PT para a Secretaria de Comunicação da Presidência é um
exemplo estridente do isolamento de Dilma Rousseff, enclausurada no PT,
sem saída. É duplamente dramático, porque Dilma está fraca, o PT está
fraco e um puxa o outro ainda mais para baixo. Típico abraço de
afogados, com uma amarga ironia: a única boia à vista é a receita
Joaquim Levy - que significa o oposto do que Dilma e o PT pregavam.
Essa
nomeação significa que Dilma não está entendendo nada e/ou não dá a
menor bola para a opinião pública, cada vez mais irritada com escândalos
sem fim. Nada contra a pessoa do afável Edinho Silva, mas a expressão
"tesoureiro do PT" remete a Delúbio Soares, preso no mensalão, e a João
Vaccari Neto, ainda no cargo e réu na Lava Jato.
E o que se
projeta para a Secom? O temor é de manipulação das verbas oficiais de
publicidade, que deveriam ser de governo, mas tendem a ser cada vez mais
de um partido. Lula, Dilma e o PT sempre culpam a mídia pelas próprias
desgraças e, tomara que não, mas podem querer dar uma de Nicolás Maduro
na Venezuela e de Cristina Kirchner na Argentina, usando dinheiro
público para chantagear empresas de comunicação.
Com estagnação
em 2014 (PIB de 0,1%), previsão de recessão em 2015, indústria
encolhendo, demissões começando, inflação disparando e falta de
perspectiva asfixiando investimentos, cortar publicidade tem ares de
vingança cruel. Parece, porém, encontrar simpatia na cúpula petista.
Em
recente reunião da bancada do PT na Câmara, presenciada pelo repórter
Pedro Venceslau, do Estado, o líder José Guimarães disse que o governo
"vive uma sangria" e é preciso "radicalizar, ir para a ofensiva". Para o
presidente do partido, Rui Falcão - que é jornalista - o governo tem de
restringir a publicidade aos meios de comunicação mais aliados. Ou
seja: aos amigos (como os blogueiros sujos, ops!, "independentes"),
tudo; à mídia livre, pão e água.
Aliás, que jornalista realmente
independente assumiria o cargo neste "caos político", como admitiu a
própria Secom? Só um jornalista engajado ou um militante, um soldado,
assumiria a comunicação de governo neste momento. É uma missão, é ir
para o sacrifício, porque a realidade desmente, dia após dia, a versão
de que o derretimento da imagem de Dilma e do partido é "culpa da
imprensa".
Milhões de pessoas foram às ruas em 15 de março, e
prometem voltar em 12 de abril, não por causa da chamada grande mídia,
mas por impulso das redes sociais e pela irritação generalizada com os
escândalos bilionários e institucionalizados no governo Lula, com a
incompetência do governo Dilma na economia, na política e na gestão e
com as mentiras de campanha sobre vacas tossindo.
"Não adianta
falar que a inflação está sob controle quando o eleitor vê o preço da
gasolina subir 20% ou a sua conta de luz saltar em 33%. Assim como um
senador tucano na lista da Lava Jato não altera o fato de que o grosso
do escândalo ocorreu na gestão do PT." Quem disse isso não foi a
imprensa malvada, foi aquele documento da própria Secom publicado com
exclusividade pelo portal Estadão.com.br.
Logo... trocar um
jornalista por um tesoureiro do PT e chantagear com verbas publicitárias
não vai resolver nada. Não há marketing que faça o PIB crescer, o
emprego aparecer, a inflação cair, a conta de luz baixar. Nem que apague
o mensalão, o petrolão, os títulos que o Postalis comprou da Venezuela e
os bilhões de reais sonegados à Receita a golpes de propina.
Além de paciência, como diria o ministro Jacques Wagner, o ex-tesoureiro Edinho Silva vai precisar muito de... Ah, sei lá.
Educação.
Depois de tantos erros crassos, Dilma acertou com Janine Ribeiro no
MEC. Um salto e tanto depois de Cid Gomes na tal "pátria educadora".
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