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21:14
ANDRADEJRJOR
ELIANE CANTANHÊDE o ESTADO DE SÃO PAULO
Não bastassem os embates
com Lula, com o PT, com o Congresso, com a realidade econômica, com as
pesquisas de popularidade e com a própria equipe, a presidente Dilma
Rousseff decidiu agora abrir mais uma frente de batalha: com os
prefeitos.
Sem entrar no mérito da mudança de indexador das
dívidas dos municípios, que aumenta ainda mais o rombo do governo
federal, o fato é que Dilma deu o doce e depois tirou o doce da boca das
crianças. O novo indexador foi aprovado há quatro meses, não entrou em
vigor e ela recorre a um argumento técnico para tratar uma questão que é
também política: a lei foi aprovada, mas não regulamentada, e os tempos
são de aperto. É mesmo?
São sete Estados e 180 municípios
beneficiados pela mudança e desesperados pela redução drástica de suas
dívidas. A da capital de São Paulo, por exemplo, pode despencar 42%, de
R$ 62 bilhões para R$ 36 bilhões. Imaginem essa diferença às vésperas da
eleição municipal de 2016, com muitos já em campanha pela reeleição.
Os
primeiros a partir para cima foram Eduardo Paes, do Rio, e Fernando
Haddad, de São Paulo. Paes, que não é apenas do PMDB, mas aliado do
deputado Eduardo Cunha e até possível nome do partido para a Presidência
em 2018, entrou na Justiça para fazer valer a lei. E Haddad, que é do
PT lulista, mandou recados mal humorados pela imprensa.
Nessa
nova crise, aconteceu o que já se tornou rotina: o Palácio do Planalto
ficou de um lado e o Congresso, de outro. Dilma falou à tarde que
reduzir a dívida de Estados e municípios com a União (algo já aprovado,
lembre-se) seria "inconsequente" num momento de cortes. Horas depois, na
mesma noite, a Câmara aprovou um projeto botando a faca no pescoço da
presidente: o governo tem 30 dias para mudar o indexador e acabou-se a
história.
Detalhe: a "inconsequência" comandada por Cunha foi
apoiada pelo próprio PT e até pelo dócil PC do B, que vota (votava?)
tudo que seu mestre - ou sua mestra - mandar.
São Joaquim Levy
conseguiu adiar a decisão do Senado para ao menos terça-feira que vem,
mas veja você: o filho do presidente da Casa, Renan Calheiros Filho, é
governador de Alagoas, um dos Estados beneficiados. Dilma vai acabar
perdendo no Senado também...
Bem, é nesse clima que os prefeitos
de todo o País vão se reunir em Brasília de 7 a 9 de abril. O tema
oficial é desenvolvimento sustentável, mas a pauta real não vai ser o
aquecimento global, mas o clima político insuportável contra o PT e
Dilma.
Após dizer ao Estado que já passou por momentos
semelhantes (de "caos político", de tensão, de desânimo) no governo
Lula, o ministro Jacques Wagner (Defesa) pediu "paciência, foco,
perseverança". Ele acha que o ajuste fiscal vai passar e tudo vai
melhorar lá pelo final do ano.
Pode ser, pode não ser. Com o
governo à deriva, sem um(a) líder, sem rumo, Dilma joga todas as suas
fichas na aprovação das medidas do ajuste fiscal, que dependem
justamente... da Câmara de Eduardo Cunha e do Senado de Renan Calheiros.
Mas, se ela perdeu na eleição para a presidência da Câmara, no embate
com prefeitos, na correção do Imposto de Renda e está perdendo no
confronto com municípios, por que ganharia no ajuste?
Por
enquanto, o cenário não é animador. Só ontem, num único dia, tivemos: o
Banco Central admite pela primeira vez retração em 2014 e 2015, o índice
de desemprego de fevereiro é o pior para o mês desde 2011 e o novo
escândalo da praça (desvios no "tribunal" da Receita) consegue ser ainda
pior do que o da Lava Jato, em torno de R$ 19 bilhões (?!). Você
conseguiria imaginar algo ainda mais escandaloso do que o da Petrobrás?
Existe.
Pois é, ministro, vai ser preciso muuuuiiiita paciência.
Pericás.
Morreu o embaixador Bernardo Pericás, estrela de um momento glorioso do
Itamaraty e referência para as novas gerações de diplomatas.
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