skip to main |
skip to sidebar
21:48
ANDRADEJRJOR
FERREIRA GULLAR FOLHA DE SÃO PAULO
A situação é tão grave que Dilma chegou a admitir que errou, mas apenas na dose, pois o remédio estava certo
Ou
eu muito me engano ou as manifestações do dia 15 contra a corrupção e
os desacertos de Dilma põem o seu governo numa situação de difícil
solução. Embora naquele mesmo dia, logo após as manifestações, dois
ministros de seu governo tenham tentado minimizar o significado político
do que ocorrera, tanto eles quanto ela --como os dirigentes do PT e
seus aliados-- sabem muito bem que aqueles protestos, ocorridos em 26
Estados, puseram o governo contra a parede: ou ela admite que errou e
passa a reparar os erros ou, se insistir em negá-los, se arriscará a
levar o povo a uma exasperação de imprevisíveis consequências.
Não
me lembro de uma mobilização popular de tais dimensões no Brasil, desde
que acompanho nossa vida política. Os protestos contra a ditadura, como
a passeata dos cem mil, por exemplo, eram manifestações limitadas a uma
cidade. Outras mobilizações contra o regime militar, pelo próprio
caráter repressor do regime, não tinham o desdobramento necessário. Já
estas manifestações de agora, não apenas ocorreram no país inteiro, como
nasceram de um inconformismo da opinião pública com o governo petista,
caracterizado pela demagogia e a corrupção.
O mensalão já tinha
chocado a opinião pública; agora, o escândalo do petrolão, envolvendo
propinas que chegam a centenas de milhões de reais, ultrapassou a
capacidade de tolerância da opinião pública. Isso somado ao fracasso da
política econômica, que obriga agora o governo a tomar medidas
impopulares, explica a mobilização de setores da sociedade, que saíram
às ruas para manifestar seu descontentamento. Uma parte deles chegou a
exigir o impeachment da presidente Dilma; a maioria, porém, exigia a
correção de seus erros e o fim da corrupção. Sucede, no entanto, que não
é próprio de seu caráter admitir que errou.
Tanto isso é verdade
que, naquele mesmo domingo, assim que acabaram as manifestações, ela
ordenou que dois ministros fossem à televisão negar a importância
daqueles protestos. Embora eles mal pudessem apagar do rosto a
preocupação que os dominava, Miguel Rossetto deu o recado que sua chefa
mandou, isto é, só participaram daquelas manifestações quem havia votado
contra ela, ou seja, repetiu a mesma tese de que se tratam de
golpistas, inconformados com a derrota nas urnas. Com isso, ela
pretendia convencer, particularmente seus eleitores, de que aqueles
protestos não deviam ser levados a sério. Mas uma nova surpresa os
esperava: a parte da população, que por algum motivo não foi às ruas
protestar, ao vê-los aparecer na televisão, começou a bater panelas para
abafar o que diziam. Dilma deveria refletir sobre esses panelaços, pois
significam que, para a opinião pública, tudo o que o governo diz não
vale a pena ouvir.
Desconhecer o que ocorreu no dia 15 é querer
tapar o sol com a peneira. Só na Avenida Paulista, havia 1 milhão de
manifestantes, segundo a PM. Em Brasília, no Rio de Janeiro, Belo
Horizonte, Porto Alegre, multidões enchiam praças e avenidas, pedindo o
fim da política populista e da corrupção. Enquanto isso, no Congresso, a
base de apoio ao governo começa a rachar, com visíveis discordâncias de
seu principal aliado, o PMDB. A situação é tão grave que a presidente
Dilma chegou a admitir que errou, mas apenas na dose, porque o remédio
--sua política econômica desastrada-- estava certo.
Mas, como se
não bastasse, ao falar ao país naquela semana, deu a entender que as
manifestações contra ela só ocorreram graças a ela, Dilma. Sabem por
quê? Porque tendo participado da luta contra a ditadura militar, foi ela
quem devolveu ao país o regime democrático e, assim, tornou possível
tais manifestações. Pode?
Pode ser, porém, que esteja perturbada
com os resultados da pesquisa Datafolha que a deve ter deixado perplexa
ao revelar que 62% do povo brasileiro considera seu governo ruim ou
péssimo e só 20% a aprova. Ainda mais significativa foi a revelação de
que o nível de desaprovação das classes A e B (a "elite branca") é menor
do que o da classe pobre, que era até aqui seu principal apoio.
E ainda faltam três anos e nove meses de governo. Mas impeachment não é a solução.
O
PSOL não apoiou o deputado Eduardo Cunha durante seu depoimento na CPI
da Lava Jato, conforme afirmei, em crônica anterior, erradamente.
EXTRAÍDADOBLOGAVARANDABLOGSPOT
0 comments:
Postar um comentário