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21:49
ANDRADEJRJOR
CELSO MING O ESTADÃO
Em geral, quem é
contra qualquer forma de ajuste se agarra ao discurso eleitoral da
presidente Dilma, que se baseava no diagnóstico, em que nem mesmo ela
acreditava, de que não havia nada de errado na economia brasileira
Há
os que são contra o ajuste da economia colocado em marcha pelo ministro
da Fazenda, Joaquim Levy, e há os que são até a favor de algum ajuste,
mas contra “este ajuste concentrado sobre a população mais pobre”.
O
líder do Movimento dos Sem-Terra, João Pedro Stédile, por exemplo, fez
essa cobrança no dia 20, na presença da presidente Dilma, em Eldorado do
Sul, Rio Grande do Sul, quando também exigia mais humildade dos
ministros: “Quem tem de pagar a conta não são os trabalhadores. São os
ricos e os milionários”.
Esta é outra ideia errada. Insistir com
ela prejudica principalmente os mais pobres. Em geral, quem é contra
qualquer forma de ajuste se agarra ao discurso eleitoral da presidente
Dilma, que se baseava no diagnóstico, em que nem mesmo ela acreditava,
de que não havia nada de errado na economia brasileira. O que havia de
errado, dizia ela, não passava de algum impacto da crise externa e de
efeitos da estiagem. Nessas condições, não haveria o que ajustar; era só
ter paciência e esperar pelo refluxo natural da crise externa e… pelas
chuvas.
A outra afirmação, de que o ajuste está sendo
descarregado apenas sobre a população pobre e não sobre os ricos, pelo
menos reconhece que a economia vai mal e que precisa de conserto. Mas a
afirmação de que os pobres estão sendo esfolados mais do que os
“coxinhas que marcham nas manifestações e batem panela” contém graves
equívocos.
O primeiro deles é o de que a política anterior estava
certa, na medida em que teria beneficiado a população mais pobre,
porque criou emprego e distribuiu renda. A farra anterior que esmerilhou
as contas públicas e puxou a inflação para perto dos 8% ao ano criou,
sim, certo emprego e distribuiu renda, mas não se baseou em políticas
sustentáveis que garantissem a continuidade do emprego e da distribuição
de renda.
A necessidade de dispensa de pessoal em consequência
da recessão e o salto da inflação mostram que a política anterior estava
errada do ponto de vista de quem pretendia a criação permanente de
empregos e da renda.
Quando concentra o ajuste no combate à
inflação e às distorções da economia, o governo não está apenas
repassando a conta da crise para a população. Está recriando condições
para que os moedores de renda do trabalhador sejam desativados.
Portanto, a política correta de ajuste é a política que dá sustentação
ao crescimento da renda e do emprego.
Outro equívoco está em
pregar políticas que apenas, aparentemente, se concentrariam no confisco
de renda daqueles mais ricos. Imposto sobre Grandes Fortunas, por
exemplo, é um falso instrumento de distribuição de renda. Onde ainda
funciona, exige um aparato de administração que custa mais do que
arrecada. E tende a provocar fuga de capitais, o que não interessa a
ninguém.
Para ter um mínimo de eficácia fiscal, o aumento do
Imposto de Renda das faixas superiores não esfolaria os mais ricos;
esfolaria a classe média. Mas quem pensa binariamente, como bom e mau ou
rico e pobre, não consegue ver a importância crescente das classes
médias. Nem se deu conta de que o setor de serviços no Brasil
ultrapassou os 71% do PIB (veja o Confira).
CONFIRA:
O gráfico acima mostra como se distribui a pizza do PIB entre os principais setores da economia.
A indústria emagreceu
A
novidade é a de que o setor de serviços já corresponde a 71,0% do PIB.
Há apenas três anos (em 2011), era de apenas 67,7% do PIB. Enquanto
isso, a indústria, que levava uma fatia de 27,2% em 2011, emagreceu para
23,4% em 2014.
Economia de serviços
Ou seja, para todos os efeitos, o Brasil tem de começar a se assumir como uma grande economia de serviços.
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