Carlos Newton
Não há dúvida de que todos os envolvidos na operação Lava Jato conhecem muito bem o exemplo do publicitário Marcos Valério, que no inquérito do Mensalão inicialmente deixou de passar importantes informações ao Ministério Público Federal, por achar que a situação se resolveria no Supremo Tribunal Federal, onde o governo e o PT contavam com a maioria dos ministros. Foi o maior erro que cometeu na vida. Embora não fosse o chefe da quadrilha, apenas o operador, recebeu a maior pena do processo, enquanto os principais responsáveis pegaram condenações leves e quase todos já estão em liberdade.
Quando entendeu que poderia pagar o pato, como se dizia antigamente, Marcos Valério resolveu fazer delação premiada, mas já era tarde demais e a Procuradoria-Geral da República não aceitou. Mesmo assim, ele deu novo depoimento para envolver o então presidente Lula no Mensalão.
Na chamada undécima hora, Valério enfim contou que em 2003 se reuniu com o chefe da Casa Civil José Dirceu no Planalto, quando acertaram o esquema do mensalão e decidiram que a empresa de Valério pegaria empréstimos para bancar o esquema. Dirceu então o levou ao gabinete de Lula, que aprovou tudo.
DESPESAS PESSOAIS
Valério se aprofundou nas denúncias e disse feito dois repasses para a empresa Caso, de Freud Godoy, amigo pessoal e assessor de Lula, e o dinheiro foi usado para pagar despesas pessoais do presidente.
Além de se referir especificamente ao Mensalão, o publicitário contou também ter mantido reunião com Dirceu para acertar um repasse de R$ 7 milhões da Portugal Telecom para o PT. Disse que Dirceu então o levou à presença de Lula, que teria ajudado nas negociações com a Portugal Telecom.
E ao final dessas explosivas declarações, Valerio disse ter sido ameaçado diretamente, porque em 2005 foi procurado pelo dirigente petista Paulo Okamoto, que lhe revelou que muita gente no PT já queria vê-lo morto.
Mas de nada adiantou o desabafo de Valério, que também falou o que sabia sobre o assassinato de Celso Daniel, prefeito petista de Santo André. Não houve delação premiada e ele pegou a pena mais severa, de 37 anos e cinco meses de prisão em regime fechado.
LULA NEGA TUDO
Estranhamente, a Procuradoria e a Polícia Federal fizeram corpo mole quanto às denúncias de Valério. Mesmo sem ter foro privilegiado, Lula somente seria ouvido em dezembro de 2014, mas na condição de testemunha, e desmentiu tudo.
Confirmou apenas que de fato reuniu-se duas vezes, em 2003, com executivos da Portugal Telecom e do Banco Espírito Santo, no Palácio do Planalto. Negou, porém, que tivesse tratado de repasses para o PT. E afirmou que os pedidos de audiência teriam partido da empresa e do banco, que participaram da privatização das telefônicas e queriam saber se Lula modificaria as regras do setor.
As explicações pareciam uma história mal contada, apesar de Lula ter alegado que as conversas teriam sido testemunhadas pelos seus ministros das Comunicações da época. No primeiro encontro, chefiava a pasta o deputado Miro Teixeira (Pros-RJ). No outro, comandava o setor o senador Eunício Oliveira (PMDB-CE). Não se sabe se a Polícia Federal confirmou com eles as informações de Lula.
IGUAIS A VALÉRIO
Vários empreiteiros, executivos, doleiros, operadores, políticos e autoridades estão agora na mesma situação de Marcos Valério. Podem fazer como ele, julgando que a situação no Supremo está cada vez mais sob controle do governo e do PT e pagar para ver, como se diz na linguagem do pôquer. Todos estão apavorados, é claro, e muitos acabarão aceitando a delação premiada.
Para a força-tarefa, o mais importante de todos eles é o bancário João Vaccari Neto, que continua a ser Tesoureiro do PT. Se ele abrir a boca, liquida com Lula, Dilma, Dirceu, Palocci e com o próprio partido.
A expectativa é cada vez maior. E como diz a famosa Lei de Murici, cada um sabe de si.
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