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07:34
ANDRADEJRJOR
EDITORIAL O GLOBO
Não se compreende
que, às portas de votações do ajuste fiscal no Congresso, o Planalto
patrocine manobras contra o PMDB, partido vital para aprovar as medidas
Se
a política brasileira seguisse as regras do vôlei, era o momento de o
Planalto “pedir tempo” para reorganizar o governo nas articulações com o
Congresso, em que os sinais de desorganização são estridentes. Chega a
ferir os ouvidos, por exemplo, a insistência do Planalto no apoio à
manobra engendrada pelo ministro das Cidades, Gilberto Kassab (PSD),
para recriar mais uma legenda, agora o PL, a fim de, pela atração de
infiéis, desidratar o PMDB.
O ex-prefeito de São Paulo, hábil em
manter os pés em várias canoas ao mesmo tempo, fez o mesmo para
desinflar partidos da oposição, ao criar o PSD, aproveitando-se da
brecha na legislação pela qual parlamentares podiam trocar de legenda
sem risco de perder o mandato, caso o partido para o qual migrassem
fosse recém-criado ou surgisse de fusão. O DEM foi um das vítimas de
Kassab.
Identificada a manobra, os caciques do PMDB trataram de
apresentar e aprovar em alta velocidade lei que veta a troca de partido
para legenda com menos de cinco anos de existência. Inclusive, se ela
for anexada a outra. Parecia esvaziada a ideia de Kassab de recriar o
PL, para fundi-lo com o PSD
A lei foi sancionada na quarta-feira
por Dilma, com veto ao dispositivo pelo qual o parlamentar não perderia o
mandato se aderisse à legenda resultante de fusão, durante uma janela
de 30 dias.
Na interpretação de peemedebistas, o objetivo é
impedir a evolução das negociações entre DEM e PTB para juntar as
bancadas. Mas o principal motivo da renovação das irritações do PMDB com
o Planalto é que Kassab protocolou na Justiça eleitoral a criação do
PL.
O fato de a sanção só ter sido sacramentada no final do prazo
foi considerado prova de que o governo jamais desembarcou do plano de
Kassab. Ao contrário, teria ganhado tempo para o ministro dar entrada no
TSE com o pedido de permissão para lançar o partido.
Toda
essa trapalhada comprova a desorganização na coordenação política do
governo. Quem, em sã consciência, aconselharia insistir na manobra, às
portas de votações importantes no Congresso cruciais para o ajuste
fiscal, cuja aprovação depende dos votos do PMDB?
São visíveis em
toda essa rocambolesca história as digitais de alas do PT que
consideram o PMDB o grande mal do país. Isso porque o partido, com todos
os defeitos conhecidos (fisiologismo, coronelismo), mantém grande
bancada no Congresso que serve de barreira a ações de cunho chavista do
lulopetismo. Na linha de usar a democracia para estrangulá-la, por meio
de constituintes ilegais, descabidas e que tais.
De resto, uma
rematada e perigosa bobagem, pois o Brasil não é Venezuela, e esse tipo
de esperteza golpista será barrado por outras instituições republicanas.
Mas cria instabilidade política e insegurança jurídica. Péssimo para
todos, a começar pelo próprio governo do PT.
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