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21:14
ANDRADEJRJOR
FERNANDO GABEIRA O ESTADO DE S.PAULO
O documento que vazou do
Planalto falando dos robôs usados nas redes sociais me fez lembrar de
2010. Foi a última campanha que fiz no Rio de Janeiro. Na época
detectamos a ação de robôs, localizamos sua origem, mas não tínhamos
como denunciar. Ninguém se interessou.
Os robôs eram uma novidade
e, além do mais, o adversário não precisou deles para vencer. Tinha a
máquina e muito dinheiro: não seriam mensagens traduzidas,
grosseiramente, do inglês - contrataram uma empresa americana - que
fariam a diferença. Essa campanha de 2010 pertence ao passado e só
interessa, hoje, aos investigadores da Operação Lava Jato.
Os
robôs abandonaram Dilma Rousseff depois das eleições. E o Palácio dá
importância a isso. Blogueiros oficiais também fazem corpo mole em
defendê-la, por divergências políticas. Isso confirma minha suposição de
que nem todos os blogueiros oficiais são mercenários. Há os que
acreditam no que defendem e acham razoável usar dinheiro público para
combater o poderio da imprensa.
Vejo três problemas nesse
argumento. O primeiro é uma prática que se choca com a democracia. O
segundo, o governo já dispõe de verbas para fazer ampla e intensa
propaganda. E, finalmente, Dilma tem todo o espaço de que precisa. Basta
convocar uma coletiva e centenas de jornalistas vão ao seu encontro. Se
Dilma quiser ocupar diariamente cinco minutos do noticiário nacional,
pode fazê-lo. O chamado problema de comunicação do governo lembra-me O
Castelo, de Kakfa. A porta sempre esteve aberta e o personagem não se dá
conta de que a porta está aberta.
O problema central é que Dilma
não sabe tocar esse instrumento. Todos os presidentes da era
democrática sabiam. Lembro-me apenas do marechal Dutra, no pós-guerra,
mas era muito criança. Falava mal, porém fez carreira militar, era um
marechal, que comprou muita matéria plástica. Mas era um outro Brasil
comparado com o avanço democrático e a onipresença do meios de
comunicação.
Os robôs que abandonaram o barco não me preocupam.
Esta semana parei um pouco para pensar na terra arrasada que o PT
deixará para uma esquerda democrática no País. Não só pelo cinismo e
pela corrupção, pelas teses furadas, mas também pela maneira equivocada
de defender teses corretas. Ao excluir dissidentes cubanos, policiais
brasileiros, opositores iranianos da rede de proteção, afirmam o
contrário dos direitos humanos: a parcialidade contra a universalidade.
Algo
semelhante acontece com a política sobre os direitos dos gays, que
apoio desde que voltei do exílio, ainda no tempo do jornal Lampião.
Ao
tentar transformar as teses do movimento numa política de Estado,
chega-se muito rapidamente à desconfiança da maioria, que aceita defesa
de direitos, mas não o proselitismo. Tudo isso terá de ser reconstruído
em outra atmosfera. Será preciso uma reeducação da esquerda para não
confundir seus projetos com o interesse nacional.
Isso se aprende
até nas ruas, vendo o desfile de milhares de bandeiras verdes e
amarelas. Na sexta-feira 13 houve um desfile de bandeiras vermelhas.
Essa tensão entre o vermelho e o verde-amarelo é expressão pictórica da
crise política.
Se analisamos a política externa do período,
vemos que o Brasil atuou lá fora como se sua bandeira fosse vermelha.
Ignora a repressão em Cuba e na Venezuela, numa fantasia bolivariana
rejeitada pela maioria do País.
Discordo de uma afirmação no
documento vazado do Planalto: o Brasil vive um caos político. Dois
milhões pessoas protestam nas ruas sem um incidente digno de registro.
Existe maturidade para superar a crise, sem violência.
Bem ou
mal, o Congresso Nacional funciona. O caos não é político. É um estado
de espírito num governo e num partido que ainda não compreenderam seu
fim. Nada mais cândido que a sugestão do documento: intensificar a
propaganda em São Paulo.
Com mais propaganda, mais negação da
realidade, o governo contribui para aumentar o som do panelaço. E exige
muita maturidade da maioria esmagadora que o rejeita.
Li nos
jornais a história de um deputado no PT reclamando de ter sido
hostilizado em alguns lugares públicos. Se projetasse o que virá no
futuro, teria razões para se preocupar.
A crise econômica ainda
vai apresentar seus efeitos mais duros. Um deles é o racionamento de
energia. Sem isso, acreditam os técnicos, não há retomada do crescimento
em 2016. Como crescer sem dispor de mais energia?
As
investigações da Lava Jato concentram-se no PT. Muitos depoimentos
convergem para inculpar o tesoureiro João Vaccari Neto. Li que uma das
saídas do partido seria culpar o tesoureiro, uma versão petista de
culpar o mordomo.
Um governo que recusa a realidade, crise
econômica que caminha para um desconforto maior e o foco da investigação
da Lava Jato no PT são algumas das três variáveis de peso que conduzem a
uma nova fase.
Diante desse quadro, não me surpreende que os
robôs estejam pulando do barco do governo. Apenas confirmam minha
suspeita de que se tornam cada vez mais inteligentes.
Eles
continuam à venda no mercado internacional. O secretário da Comunicação
recomendou ao governo dar munição a seus soldados na internet, Lula
ameaçar com o exército de Stédile. Um novo exército de robôs seria
recebido com uma gargalhada nas redes sociais.
Juntamente com os
robôs, Cid Gomes saltou do barco. Ao contrário dos robôs, seu cálculo é
político. Superou em 100 a marca de Lula sobre os picaretas no
Congresso. Preservou-se com os futuros eleitores.
Mas, e aquela
história da educação como o carro-chefe do projeto de Dilma? Confusão
entre os estudantes que não recebem ajuda e o ministro contando
picaretas no Congresso.
É tudo muito grotesco. Os partidos querem
ver Dilma sangrando. Além de ser muito sangue o que nos espera pela
frente, é preciso levar em conta que, de certa maneira, o Brasil sangra
com Dilma. Arrisca-se a morrer exangue.
extraídadoblogavarandablogspot
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