Jacy de Souza Mendonça
No dia 15 de março de 2015, a Av.
Paulista, em São Paulo, foi ocupada por um milhão de cidadãos que,
espontaneamente, sem qualquer forma de gratificação, vieram protestar contra o
governo da República. Algo assemelhado ocorreu em todo o território nacional. Foi
um espetáculo indescritível. Uma cena como a História do Brasil não tinha até
agora registrado. Brasileiros de todas as idades e cores, de todas as
profissões e níveis salariais, sem nenhum compromisso com Partidos ou
políticos, de forma absolutamente ordeira e pacífica, resolveram apenas
informar às autoridades públicas, que estão totalmente insatisfeitos. Em seus
cartazes, a maioria deles revelava os motivos de sua insatisfação e do repúdio
através de improvisados cartazes escritos por eles mesmos.
Dentre a motivação do desencanto,
revelada nesses cartazes, podia-se destacar a brutal corrupção no governo, a
quebra criminosa da Petrobrás e a certeza de que algo semelhante ocorreu nas
demais estatais, a irritação com as mentiras da campanha eleitoral, a
petulância dos detentores do Poder, o aumento repentino das tarifas públicas e
das alíquotas tributárias, a falta de luz, de água, de segurança e as ameaças,
em suma, de implantação do socialismo no Brasil. Socialismo este que os
brasileiros sempre repudiaram. Não
ficou oculto, nem mesmo o desejo de afastamento de Dilma da Presidência da
República e de Lula da atividade política. Um dos cartazes pedia até a prisão
deste. A não esquecer, porém, que os apelos mais frequentes eram: fora Dilma e abaixo o PT.
A genialidade dos governantes federais,
resultante de várias reuniões nas primeiras horas que se seguiram ao evento,
assumiu que teria ocorrido imensa reação popular à corrupção, trazida à lume
pela operação Lava a Jato. Dois Ministros de Estado ocuparam os televisores,
contradizendo-se em público, para declarar que aceitavam o fato como madura
manifestação democrática, que o Governo iria acolher a mensagem e tomar
providências imediatas contra a corrupção. Até a Presidente da República, após
uma ocultação estratégica, assumiu essa estudada postura e veio ecoar a voz de
seus Ministros, declarando orgulhosamente
o que chamou as sandálias de sua humildade.
Essa estratégia de marketing pretendia
acalmar os ânimos e foi seguida de um ato público no qual foi oferecido pela
Presidente um pacote legislativo contra a corrupção. Uma estranha novidade que
apenas regulamenta lei que há muitos meses aguardava regulamentação em seu
gabinete. Uma estranha novidade que, em sua maior parte apenas reproduz
desnecessariamente dispositivos legais já vigentes.
Está claro, portanto, que a Presidente
e seus Ministros não escutaram, não entenderam, ou fingiram não ter escutado
nem entendido o que lhes disse a Av. Paulista. O movimento do povo brasileiro
não foi direta e exclusivamente contra a corrupção, por mais que os bilhões
roubados das estatais (ou seja, do bolso do povo) e transferidos para Bancos no
exterior dê asco em todos os homens de bem desse País. A reação do povo
brasileiro foi e é contra o governo.
Algumas das múltiplas causas dessa reação foram manifestadas nos cartazes
levados para a rua e dentre estas a mais contundente é, sem dúvida, a
roubalheira praticada pelos detentores do Poder, como nunca dantes se vira nesse País. A estratégia política consistiu em
fixar-se em apenas uma dessas causas, como se ela fosse a única e prometer
fingidamente combatê-la, colocando os responsáveis políticos não como alvo da
repulsa, mas até como um dos revoltados. Tomar a parte pelo todo é um erro
lógico reconhecido através dos séculos, usado nesta oportunidade para enganar o
povo brasileiro.
Nós não precisamos de novas leis contra
roubo. Já as temos e elas são suficientes. O que desejamos é que não roubem;
que não usem dinheiro público para assegurar a vitória no pleito eleitoral, que
não usem o dinheiro público para enriquecer Bancos estrangeiros ou para gerar
condições de abastança em viagens ao exterior. O que exigimos é que os
governantes não se apropriem do dinheiro que não é deles e que depois não usem
os poderes de que dispõem para se acobertar.
A Presidente e seus Ministros deveriam
ter percebido que é assim que pensa a população brasileira; se por alguma falta
de acuidade não tinham ainda percebido, isso ficou evidenciado à saciedade no
panelaço que serviu de fundo musical ao disfarçado e enganador discurso dela e
de seus acólitos.
Mas os governantes, de fato, não
escutaram ou não entenderam as palavras das ruas brasileiras, embora elas
tenham sido suficientemente claras e tenham sido reprisadas inúmeras vezes
pelos televisores: trata-se de profunda insatisfação com os governantes e com a forma como eles governam e se locupletam.
Lamentavelmente, talvez eles estejam precisando de uma ou várias repetições do
manifesto popular, para se acordarem a tempo de evitar uma catástrofe social e
política, que pode ser de extrema gravidade.
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