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16:56
ANDRADEJRJOR
SUELY CALDAS O ESTADO DE S.PAULO
Os partidos de oposição
recolhem assinaturas no Congresso para criar uma Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI) que vai apurar fraudes nos fundos de pensão de
estatais, que vêm acumulando déficits bilionários nos últimos três anos e
ameaçam repassar a conta para os funcionários das empresas - ativos e
aposentados. Não é a primeira vez que esses fundos são investigados em
CPI. Em 1992, no rastro das denúncias contra negócios suspeitos ligados
ao governo Collor, o Congresso instalou uma CPI focada na Petrobrás e
nos fundos de pensão (os alvos da corrupção são sempre os mesmos!). A
CPI produziu um relatório listando operações suspeitas, livrou políticos
que pressionaram para ter seus nomes suprimidos do texto final e se
perdeu em meio ao processo de impeachment de Collor, decretado em
dezembro de 1992.
Criados na década de 1970 para pagar futuras
aposentadorias de funcionários, os fundos das estatais são hoje
administrados por funcionários indicados pela empresa patrocinadora ou
escolhidos em eleições comandadas por sindicatos e partidos políticos.
Mais vale para o candidato ser sindicalista ou ter apoio de um partido
do que trazer experiência e qualificação técnica em gestão de dinheiro. E
eles administram patrimônios bilionários (Previ, do Banco do Brasil, R$
170 bilhões; Petros, Petrobrás, R$ 66 bilhões; Funcef, CEF, R$ 56
bilhões), mirados pela cobiça de partidos políticos e aproveitadores do
mercado financeiro, do tipo Alberto Youssef, o doleiro da Operação Lava
Jato, presenteado com empréstimo de R$ 21 milhões da Petros.
Se
há 23 anos a primeira CPI apurou fraudes simplórias, como cotas
superfaturadas de shopping centers, investimento em ações de empresas
falidas e até compra de túmulos num cemitério, hoje elas são mais
sofisticadas e introduziram novos protagonistas: operadores de partidos
políticos e do mercado financeiro. Só que esses fundos também ganharam
novos e atentos fiscais - seus filiados aposentados, que, temendo ter o
salário reduzido, ficam de olhos arregalados nos resultados financeiros
do fundo, propagam na internet operações suspeitas e mobilizam outros
filiados a reclamar dos gestores. Com uma CPI funcionando, eles podem
fazer um estrondoso barulho. Os fiscais da Petros, por exemplo,
pressionaram e o Conselho Fiscal questionou e reprovou as contas de 2013
apresentadas pela diretoria do fundo.
Três dos quatro maiores
fundos de estatais (Petros, Funcef e Postalis) acumulam déficits
seguidos há três anos, o que os obriga por lei a cobrir o rombo
dividindo-o em partes iguais entre a empresa e os funcionários. O
Postalis (dos Correios) foi o primeiro a apresentar plano para
equacionar um buraco de R$ 5,6 bilhões: os aposentados terão seu
benefício reduzido em nada menos que 25% e os funcionários ativos, corte
de 4% nos salários, tudo ao longo dos próximos 15 anos. O ministro das
Comunicações, Ricardo Berzoini, a quem os Correios estão subordinados,
já afirmou que os trabalhadores não pagarão pelos erros da direção do
fundo. Berzoini parece desconhecer a lei do rateio do rombo. Disse que
vai punir quem realizou "investimentos inadequados", mas não revelou o
que fará para apurar responsabilidades.
A Superintendência
Nacional de Previdência Complementar (Previc), que regula e fiscaliza os
fundos de pensão, multou o Postalis por operações fora das regras (como
a compra de títulos da Venezuela e da Argentina, os dois países em pior
situação financeira do continente), mas negou intervenção pedida mais
de uma vez por associações de funcionários e permitiu que a situação se
agravasse a ponto de cortar salários. Petros e Funcef seguem o mesmo
caminho e terão de solucionar seus déficits com redução dos salários dos
trabalhadores da Petrobrás e da CEF.
Por acumularem esses fundos
patrimônio valioso, os governos Lula e Dilma os têm impelido a
participar de licitações e investir em projetos de infraestrutura de
retorno duvidoso - casos da Hidrelétrica de Belo Monte e da Sete Brasil,
empresa ameaçada de falência. E vem aí nova rodada de licitações...
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