editorial do Estadão
Se depender dos consumidores, a indústria, tudo indica, terá mais um ano
muito ruim e mais trabalhadores irão para a rua em 2015. A intenção de
consumo das famílias (ICF) diminuiu 6,1% de fevereiro para março e ficou
11,9% abaixo do nível de um ano antes, segundo pesquisa mensal da
Confederação Nacional do Comércio (CNC). Pelo segundo mês consecutivo o
resultado foi o mais baixo da série iniciada em 2010. A divulgação desse
quadro coincidiu com a publicação de mais uma sondagem com más notícias
sobre o setor industrial. A atividade continuou em deterioração em
fevereiro, com novos sinais de produção em queda e acumulação de
estoques indesejados. O levantamento, elaborado pela Confederação
Nacional da Indústria (CNI), mostrou uma piora das expectativas dos
empresários do setor em março. Como consequência, o indicador da
intenção de investimento continuou em queda. Caiu 2,2 pontos em um mês e
chegou a um patamar 11,5 pontos mais baixo que o de março de 2014.
A combinação desses dados fortalece a aposta em um ano de recessão, até
porque o setor de serviços também vai mal. No caso do comércio, o índice
de intenção de consumo permanece em 110,6 pontos, ainda na zona
positiva, portanto (a linha divisória corresponde ao nível 100). Mas as
vendas do varejo têm perdido impulso desde o fim de 2014 e a má
disposição dos consumidores prenuncia negócios fracos nos próximos
meses. A pesquisa da CNC produz um indicador antecedente formado por
sete componentes objetivos e subjetivos - emprego atual, perspectiva
profissional, renda atual, compras a prazo, nível de consumo atual,
perspectiva de consumo e condições do momento para duráveis. A variação
de todos foi negativa em março.
O componente nível de consumo atual caiu 10,8% em um mês e ficou 12%
menor que o de um ano antes. Quase 40% das famílias (39,1%) informaram
um nível de consumo menor que o do ano passado.
A análise incluída no relatório da CNC menciona algumas explicações para
a piora das perspectivas, com destaque para a inflação de 7,7% em 12
meses, o crédito muito caro e o elevado endividamento. Houve piora na
avaliação do acesso ao crédito e do momento para compra de duráveis. Os
dois itens estão com indicadores abaixo de 100, na faixa negativa,
portanto.
No mercado ainda se aposta em pelo menos mais uma alta de juros básicos
pelo Banco Central. O aperto poderá ser maior, no entanto, se a inflação
for mais resistente do que as autoridades monetárias avaliam neste
momento. De toda forma, qualquer novo aumento do custo do crédito
inibirá mais fortemente as compras de bens duráveis, como automóveis,
móveis e eletroeletrônicos, e também de alguns semiduráveis, igualmente
vendidos com pagamento parcelado.
Além da acumulação de estoques indesejados, a sondagem da CNI mostrou o
aumento da ociosidade. O nível médio de utilização da capacidade
instalada caiu de 72% em fevereiro do ano passado para 66% em fevereiro
deste ano, chegando ao menor nível da série mensal iniciada em 2011. Em
fevereiro, a avaliação do emprego no setor aumentou ligeiramente, de
44,4 para 44,7 pontos, em média, mas continuou na área negativa, isto é,
abaixo de 50 pontos. Em outros termos, o pessimismo em relação às
contratações ficou um pouco menor.
De fevereiro para março a expectativa em relação à demanda interna caiu
de 48,9 para 48 pontos, mas a avaliação das condições da demanda externa
melhorou quase imperceptivelmente, de 49,5 para 49,6 pontos. Mas as
vendas ao exterior continuam fracas e até agora a desvalorização cambial
pouco ou nada ajudou a elevar as exportações, embora o câmbio
depreciado normalmente barateie os produtos nacionais para os
compradores estrangeiros.
Na média, a intenção de investimento industrial continuou em queda,
recuando de 49,3 para 47,2 pontos. Com menor investimento é menor a
perspectiva de crescimento econômico no curto prazo e muito menor no
longo prazo. Criar algum otimismo continua sendo um grande desafio para o
governo.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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