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21:16
ANDRADEJRJOR
ROGÉRIO FURQUIM WERNECK O GLOBO
Planalto se vê hoje com pouca ascendência sobre Congresso e vulnerável às demonstrações de força da cúpula peemedebista
A
impressão que se tem é que, a cada dia que passa, surge um novo e grave
problema a enfrentar. A penosa agenda da reconstrução da economia
continua em aberto. Não parece ter fim. A combinação perversa de
recessão, aceleração inflacionária, insustentabilidade fiscal e
desequilíbrio externo — agravada pelas crises da Petrobras e do setor
elétrico — vem-se desdobrando em vasto leque de problemas específicos de
solução assustadoramente difícil. E quanto mais nítidas se tornam as
reais proporções do desafio que o país tem pela frente, mais
preocupantes parecem a fragilidade e o despreparo do governo para levar
adiante a reconstrução que se faz necessária.
O que mais
impressiona é que, diante dessa agenda tão pesada, o Planalto se tenha
permitido dilapidação tão devastadora de seu capital político em menos
de 90 dias do segundo mandato. Na esteira das retaliações que se
seguiram à desastrosa tentativa de tornar o governo menos dependente do
PMDB, o Planalto se vê hoje com pouca ascendência sobre o Congresso e
perigosamente vulnerável às demonstrações de força da cúpula
peemedebista.
Não é só pela extensão da perda do apoio
parlamentar que a dilapidação de capital político pode ser aferida, mas
também pela vertiginosa deterioração da imagem da presidente e da
avaliação do seu governo, evidenciada pelas pesquisas de opinião, e pela
surpreendente escala das manifestações de 15 de março.
Não
bastassem todas essas dificuldades, o governo se vê agora envolvido num
grande embate federativo em campo aberto, em torno da renegociação das
dívidas dos governos subnacionais com a União. Tendo concordado em abrir
a caixa de Pandora dessa renegociação no final do primeiro mandato,
para propiciar alívio fiscal sob medida a prefeitos aliados, o Planalto
percebe, afinal, que não tem como fechá-la, por mais que, agora, lhe
pareça que a distribuição de benesses seria, a esta altura,
“absolutamente inconsequente”.
Diante da disposição do Congresso
de exigir que a União conceda as reduções de dívidas pleiteadas pelos
governos subnacionais, é difícil que, com a simples alegação de que “nós
estamos fazendo um imenso esforço fiscal” e “não temos condições de
fazer essa despesa agora”, a presidente possa comover a ampla frente
parlamentar mobilizada para dar apoio à medida. É mais um revés para o
ajuste que se faz necessário nas contas públicas. Um novo e grande
esqueleto a ser debitado ao surto de irresponsabilidade fiscal que
marcou o primeiro mandato da presidente Dilma.
Nada disso tira o
mérito do esforço de ajuste fiscal que vem sendo comandado pelo ministro
Joaquim Levy. Muito pelo contrário. Especialmente quando, depois de
tantos anos, o ajuste vem afinal respaldado por um discurso econômico
que faz sentido. Mas há que se perceber com clareza a dura realidade que
vem sendo enfrentada. A montagem da coalizão requerida para a aprovação
das medidas no Congresso avança com inegável dificuldade. É bem
possível que a aprovação não ocorra antes de junho. E não se sabe em que
extensão as medidas serão afinal desfiguradas.
Nesse quadro,
cada esqueleto e cada revés, como o da renegociação forçada das dívidas
dos governos subnacionais com a União, levantam dúvidas adicionais sobre
as limitações do esforço de ajuste fiscal em curso. É bem sabido que,
mesmo que a meta de 1,2% do PIB para o superávit primário seja
rigorosamente cumprida, a dívida bruta do setor público, como proporção
do PIB, deverá mostrar nova e expressiva elevação em 2015. E quanto
maiores os esqueletos desenterrados ao longo do ano, maior será tal
elevação.
Para que a sustentabilidade fiscal possa ser
restaurada, o esforço de 2015 terá de ser só o primeiro passo de um
processo mais longo e ambicioso de ajuste fiscal, que perdure pela maior
parte do atual governo. E é isso que continua pouco crível, tendo em
vista a falta de convicção da presidente e a alarmante fragilização
política do Planalto.
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