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07:07
ANDRADEJRJOR
RUY CASTRO FOLHA DE SÃO PAULO
Não é do meu tempo, mas
aprendi a amar o cinema mudo. Às vezes, promovo para mim mesmo festivais
domésticos de filmes de Greta Garbo, Douglas Fairbanks e Lon Chaney,
todos pré-1927 e hoje disponíveis em DVD. São tão excepcionais que nem
me lembro de que, quando os atores falam, não se ouve o diálogo. O único
momento em que parece faltar alguma coisa é no começo, quando o leão da
Metro abre a bocarra, ruge e não se escuta nada.
Lembrei-me
disso outro dia ao ler no "New York Times" que a "voz do Brasil", tão
altissonante no cenário internacional nas últimas décadas, tinha se
transformado num "sussurro" no governo Dilma. Veio-me também à cabeça o
assessor do governo israelense que, há meses, em resposta a um palpite
de Dilma sobre um ataque de Israel aos palestinos, chamou o Brasil de
"anão diplomático".
Pouco depois, Dilma voltou a pisar na banana
ao dizer, na Assembleia Geral da ONU, que era preciso "dialogar com o
Estado Islâmico" --aquele que degola e frita prisioneiros vivos e
destrói tesouros arqueológicos na casa dos outros. Aliás, esta
declaração de Dilma resolveu um problema. Com ela, lá se foi a última
chance de o Brasil integrar o Conselho de Segurança da ONU.
Bem,
podemos ser um anão que sussurra, mas o que hoje se vocifera lá fora
sobre o país é de ensurdecer. A cada dia, investigadores independentes,
nos EUA, Suíça e Alemanha, descobrem que, em qualquer negócio com o
Brasil, seus cidadãos, instituições e empresas têm de pagar por fora.
Nada mais rola por aqui sem a boquinha, o suborno institucionalizado.
Tudo
em que nos metemos --contratos da Petrobras com fornecedores, contas
secretas no exterior, acordos da Copa do Mundo e até a venda de Neymar
para o Barcelona-- envolve uma mutreta. O Brasil ruge em silêncio e, no
lugar da bocarra, o que se vê é a boquinha.
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