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21:23
ANDRADEJRJOR
VINICIUS TORRES FREIRE folha de são paulo
Apesar de dizer que não quer botar fogo no circo econômico, PMDB morde e assopra ajuste fiscal
"QUE
FASE." Quando o governo acerta uma no cravo, martela duas na ferradura e
leva três na canela. Na segunda-feira, teve a satisfação triste e
diminuta de saber que não levou ponto negativo em sua nota de crédito,
dada por uma dessas agências de avaliação de risco de calote. Alegrias
pobres duram pouco.
Ontem, o presidente do Senado, Renan
Calheiros (PMDB), disse a líderes empresariais da indústria que Dilma
Rousseff vai comer o pão que ela própria amassou antes de ver o pacote
de corte de gastos do governo aprovado no Congresso. Foi aplaudido.
Calheiros
e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB) têm dito em público e a
algumas lideranças empresariais maiores que não vão colocar fogo no
circo, não vão derrubar o corte de gastos, o "ajuste fiscal". Mas a cada
dois ou três dias demonstram também que vão triturar politicamente o
governo. Ameaçaram, mas enfim recuaram, deixar correr projeto de lei que
reajusta todos os benefícios do INSS pelo valor do salário mínimo.
Querem fazer valer logo, regulamentar, a lei que reduz a dívida de
Estados e municípios com a União, mais um talho nas receitas federais.
Ontem,
Calheiros cantou alto a ária preferida de empresários e aliás de quase
todo o mundo. Isto é, o governo tem de cortar "seus gastos", não
aumentar impostos, como pretende fazer no caso da contribuição patronal
para o INSS, medida que deixou o empresariado em geral fulo. Mas o
governo vai cortar onde?
Reduzir o número de ministérios rende
apenas um troco. Melhorar as contas do governo ora implica reduzir
benefícios sociais, investimento "em obras" ou fechar partes do governo
(isso: fechar).
No entanto, centrais sindicais e movimentos
sociais malham e querem queimar o PT como Judas, para nem falar dos
parlamentares que ameaçam debandar, todos por causa de cortes sociais.
Para piorar, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, foi ontem a
público negar que o governo vá maneirar no talho social a fim de agradar
a Lula, ao PT, a agregados e a simpatizantes.
Logo, vai sobrar
ainda mais para os investimentos. A recessão deve, assim, piorar. Obras
vão parar ou ficar sem pagamento, como já acontece, o que vai causar
mais raiva entre empresas e trabalhadores. Em um ano, a construção civil
já demitiu uns 8% de sua força de trabalho, quase 280 mil pessoas na
rua.
Suponha-se que Calheiros e Cunha não queiram tocar fogo no
circo econômico (sabem que reduzir o ministério não rende nada em termos
fiscais). Pode ser então que estejam emparedando o governo, ganhando
mais território, talvez até reduzir Dilma Rousseff a presidente do
Vaticano ou de San Marino. Tendo ficado com mais poder ou, quem sabe,
tendo empurrado a presidente no precipício, farão o que da massa falida,
talvez caótica?
Até cortar gasto a machadadas está difícil, pois
há muita despesa protegida por lei, crescente, e a receita do governo
não cresce. O decerto lunático Orçamento federal prevê um AUMENTO real
de uns 9% na receita, mas no primeiro bimestre do ano a receita CAIU 3%
em termos reais.
Enfim, esta é a malhação de Dilma com pauladas
econômicas. Há CPIs, polícia, procuradores, Justiça. Ninguém ainda se
arrisca a dar sentido a esta crise.
extraídadoblogavarandablogspot
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