Jornalista Andrade Junior

sábado, 28 de março de 2015

"Internet e Protestos",

por Marisa von Bülo COM BLOG DO NOBLAT O GLOBO

Entre os usuários da Internet, 20% diz não confiar nunca nas notícias veiculadas pelas redes sociais, e 51% afirma confiar poucas vezes
Desde as manifestações de junho de 2013, o impacto das redes sociais da Internet nos protestos de rua vem sendo intensamente discutido no Brasil, por jornalistas, acadêmicos, políticos e pelos próprios ativistas. As mobilizações mais recentes confirmaram que, efetivamente, essas redes sociais têm papel importante na convocação para protestos de rua.
Mas nós chegamos tarde a essa discussão, que já tem mais de uma década e cresceu exponencialmente nos últimos anos. Basta lembrar das análises sobre o papel da Internet na Primavera Árabe, muitas delas extremamente otimistas quanto ao seu potencial democratizador. A famosa frase “A Revolução Será Twitteada”, no contexto dos protestos de 2009 no Irã, era um exagero, mas sintetizou a maneira como as redes sociais da Internet eram vistas naquele momento.
Contexto é Fundamental para Entender Impacto da Internet nos Protestos
Recentemente, três pesquisadores (Marco Bastos, Arthur Charpentier e Dan Mercea) publicaram artigo resumindo os resultados de um estudo inédito e importante, sobre Internet e protestos. Eles compararam os Indignados (Espanha), o Movimento Occupy (Estados Unidos) e as manifestações de junho de 2013 no Brasil, que eles chamaram de “Os Protestos do Vinagre”. O objetivo era saber se a análise do uso das mídias sociais poderia ajudar a prever o que aconteceria nos protestos.
Nos casos dos Indignados e do Movimento Occupy, os pesquisadores concluíram que, efetivamente, monitorar redes sociais como o Facebook e o Twitter permite prever o que acontece nas ruas. As mudanças na intensidade dos fluxos de comunicação nessas redes acompanhavam as mudanças no número de participantes dos protestos. A participação digital é quase um espelho da participação presencial.
No entanto, o mesmo não foi verdade no caso dos dados do Brasil. Como os próprios autores admitem, nas nossas análises sobre as mídias sociais é fundamental considerar o contexto.
Alguns dados sobre o uso da Internet no Brasil, publicados pela Pesquisa Brasileira de Mídia 2015, podem oferecer pistas para entender os resultados encontrados pelos pesquisadores. Para começo de conversa, não podemos esquecer que aproximadamente metade da população brasileira ainda não acessa a Internet. Apesar desse número estar diminuindo ano a ano, é uma parcela importante da população que está excluída das mídias sociais (mas não necessariamente dos protestos).
Entre os que não usam a Internet, a questão dos custos é mencionada como justificativa apenas por 14%. Mais importantes são a falta de interesse (43%) e a falta de habilidade com o computador (41%).
Um outro dado da Pesquisa Brasileira de Mídia é importante. Entre os usuários da Internet, 20% diz não confiar nunca nas notícias veiculadas pelas redes sociais, e 51% afirma confiar poucas vezes. As redes sociais virtuais perdem, nesse quesito, para revistas, televisão, rádio e jornais impressos.
Finalmente, nos estudos que incluem dados do Twitter é fundamental considerar que, no Brasil, a penetração dessa rede social ainda é limitada. Ainda de acordo com a Pesquisa Brasileira de Mídia, entre os usuários da Internet meros 5% declararam usar o Twitter, em comparação com 83% que declararam ser usuários do Facebook.
Esses dados são parte de um contexto que precisamos entender, para poder comparar os impactos dos usos das plataformas digitais em países como Brasil, Espanha e Estados Unidos. Aqui, como também em outros países, as redes sociais da Internet têm um papel cada vez mais importante, mas limitado pela exclusão digital e pela forma específica como são usadas pelos cidadãos.
Doutora em ciência política e professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília. Estuda as relações entre Internet e ativismo político e movimentos sociais nas Américas. 
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
 

 

0 comments:

Postar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More