por Marisa von Bülo COM BLOG DO NOBLAT O GLOBO
Entre os usuários da Internet, 20% diz não confiar nunca nas notícias veiculadas pelas redes sociais, e 51% afirma confiar poucas vezes
Desde as manifestações de junho de 2013, o impacto das redes sociais da
Internet nos protestos de rua vem sendo intensamente discutido no
Brasil, por jornalistas, acadêmicos, políticos e pelos próprios
ativistas. As mobilizações mais recentes confirmaram que, efetivamente,
essas redes sociais têm papel importante na convocação para protestos de
rua.
Mas nós chegamos tarde a essa discussão, que já tem mais de uma década e
cresceu exponencialmente nos últimos anos. Basta lembrar das análises
sobre o papel da Internet na Primavera Árabe, muitas delas extremamente
otimistas quanto ao seu potencial democratizador. A famosa frase “A Revolução Será Twitteada”,
no contexto dos protestos de 2009 no Irã, era um exagero, mas
sintetizou a maneira como as redes sociais da Internet eram vistas
naquele momento.
Contexto é Fundamental para Entender Impacto da Internet nos Protestos
Recentemente, três pesquisadores (Marco Bastos, Arthur Charpentier e Dan Mercea) publicaram artigo resumindo
os resultados de um estudo inédito e importante, sobre Internet e
protestos. Eles compararam os Indignados (Espanha), o Movimento Occupy
(Estados Unidos) e as manifestações de junho de 2013 no Brasil, que eles
chamaram de “Os Protestos do Vinagre”. O objetivo era saber se a
análise do uso das mídias sociais poderia ajudar a prever o que
aconteceria nos protestos.
Nos casos dos Indignados e do Movimento Occupy, os pesquisadores
concluíram que, efetivamente, monitorar redes sociais como o Facebook e o
Twitter permite prever o que acontece nas ruas. As mudanças na
intensidade dos fluxos de comunicação nessas redes acompanhavam as
mudanças no número de participantes dos protestos. A participação
digital é quase um espelho da participação presencial.
No entanto, o mesmo não foi verdade no caso dos dados do Brasil. Como os
próprios autores admitem, nas nossas análises sobre as mídias sociais é
fundamental considerar o contexto.
Alguns dados sobre o uso da Internet no Brasil, publicados pela Pesquisa
Brasileira de Mídia 2015, podem oferecer pistas para entender os
resultados encontrados pelos pesquisadores. Para começo de conversa, não
podemos esquecer que aproximadamente metade da população brasileira
ainda não acessa a Internet. Apesar desse número estar diminuindo ano a
ano, é uma parcela importante da população que está excluída das mídias
sociais (mas não necessariamente dos protestos).
Entre os que não usam a Internet, a questão dos custos é mencionada como
justificativa apenas por 14%. Mais importantes são a falta de interesse
(43%) e a falta de habilidade com o computador (41%).
Um outro dado da Pesquisa Brasileira de Mídia é
importante. Entre os usuários da Internet, 20% diz não confiar nunca
nas notícias veiculadas pelas redes sociais, e 51% afirma confiar poucas
vezes. As redes sociais virtuais perdem, nesse quesito, para revistas,
televisão, rádio e jornais impressos.
Finalmente, nos estudos que incluem dados do Twitter é fundamental
considerar que, no Brasil, a penetração dessa rede social ainda é
limitada. Ainda de acordo com a Pesquisa Brasileira de Mídia, entre os
usuários da Internet meros 5% declararam usar o Twitter, em comparação
com 83% que declararam ser usuários do Facebook.
Esses dados são parte de um contexto que precisamos entender, para poder
comparar os impactos dos usos das plataformas digitais em países como
Brasil, Espanha e Estados Unidos. Aqui, como também em outros países, as
redes sociais da Internet têm um papel cada vez mais importante, mas
limitado pela exclusão digital e pela forma específica como são usadas
pelos cidadãos.
Doutora
em ciência política e professora do Instituto de Ciência Política da
Universidade de Brasília. Estuda as relações entre Internet e ativismo
político e movimentos sociais nas Américas.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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