Alex Pipkin, PhD
Vivemos uma era da mediocridade, em que afirmar que necessidades são direitos se transformou em dogma inquestionável.
Essa mentalidade coletivista, amplamente difundida por políticas assistencialistas e discursos populistas, propaga a falsa noção de que qualquer carência deve ser suprida pelo Estado - e, por consequência, por outros indivíduos, independentemente de sua vontade. O problema dessa visão não é apenas econômico, mas, principalmente, moral: quando se diz que alguém tem direito a algo sem precisar conquistá-lo, se está a afirmar que outra pessoa tem a obrigação de fornecer esse algo, queira ou não. Isso não é justiça, é coerção disfarçada de solidariedade.
Se essa lógica fosse levada às últimas consequências, por exemplo, qualquer um poderia exigir que um médico lhe prestasse atendimento sem remuneração ou que um empresário contratasse funcionários sem considerar seus custos. O que é isso, senão uma forma de escravidão justificada pela necessidade? O que poucos percebem é que, quando o Estado assume esse papel de provedor universal, ele não gera riqueza para cumprir suas promessas, apenas a transfere à força, retirando de uns para dar a outros. O que começa como uma promessa de justiça social termina como uma política de coerção institucionalizada.
Esse sistema é sustentado por uma das maiores falácias do nosso tempo: a falácia do bom-mocismo estatal, que se apresenta como uma defesa do bem-comum, mas que, na realidade, prejudica a todos. O discurso oficial pinta o assistencialismo como um ato de benevolência, como se o governo estivesse corrigindo desigualdades de forma nobre. Na prática, faz exatamente o contrário: desincentiva a produção, pune quem trabalha e premia a dependência. A retórica do “bem-estar social” esconde a verdade incômoda de que esse modelo mina a produtividade, sufoca a inovação e aprisiona milhões na mediocridade.
A perversidade pode ser comparada a um alpinista tentando escalar uma montanha. No início, ele pode precisar de orientação e ajuda. Mas se alguém o carregar montanha acima sempre que ele encontrar dificuldades, ele jamais será capaz de escalar por conta própria. O assistencialismo funciona da mesma forma, já que em vez de incentivar o indivíduo a superar desafios e crescer, ele o mantém dependente e enfraquecido, tirando dele qualquer senso de independência e conquista.
O que acontece quando uma sociedade inteira é condicionada a depender do Estado? O experimento do etólogo John B. Calhoun, conhecido como “Universo 25”, ajuda a responder tal pergunta. Nele, foi criada uma colônia de ratos em um ambiente onde não faltava comida, água ou abrigo. No início, a população cresceu rapidamente, mas, com o tempo, os ratos começaram a apresentar comportamentos autodestrutivos. Os machos se tornaram passivos, as fêmeas perderam o instinto materno e a reprodução despencou. No fim, a sociedade colapsou e os ratos desapareceram, mesmo sem nenhuma escassez material.
A semelhança com o efeito do assistencialismo excessivo na sociedade humana é impressionante. Quando se eliminam os desafios e se dá tudo de graça, a iniciativa desaparece, a autoestima enfraquece e a própria razão de existir se perde. O Estado babá cria indivíduos frágeis, inseguros e incapazes de tomar as rédeas de suas próprias vidas. O que começa como “proteção social” acaba gerando uma sociedade de dependentes, sem ambição e sem dignidade.
A Venezuela, outrora nação próspera, caiu nessa armadilha. O país mergulhou no caos após anos de políticas que diziam garantir direitos para todos, mas que, na prática, destruíram a liberdade individual e a economia. Enquanto isso, países que apostaram na responsabilidade individual, como Coreia do Sul e Singapura, prosperaram ao incentivar seus cidadãos a crescerem por conta própria. O Brasil, por outro lado, mantém um extenso aparato de benefícios estatais e, mesmo assim, a pobreza persiste. Isso acontece porque o assistencialismo não elimina a miséria; ele apenas a administra, garantindo que a dependência do Estado nunca acabe.
É verdade que o homem tem uma preocupação natural com o próximo, e a caridade e a solidariedade são virtudes nobres. Mas a verdadeira ajuda deve ser voluntária, uma generosidade espontânea, nunca imposta. Quando o Estado força uns a sustentarem outros, ele não está promovendo a bondade, mas sim a coerção.
A verdadeira dignidade não está em receber migalhas governamentais, mas em conquistar a própria vida por meio do trabalho e do mérito.
Necessidades não podem ser usadas como justificativa para forçar os outros a trabalhar por nós. Cada indivíduo deve buscar suprir suas próprias carências por meio do esforço e da autorresponsabilidade.
Então, você quer ser um indivíduo autônomo ou um súdito do Estado, preso à ilusão de segurança? Definitivamente, a liberdade e a prosperidade de uma sociedade dependem do reconhecimento de uma verdade singela: não há justiça na coerção, nem dignidade na dependência.
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