Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 3 de abril de 2025

Ataque especulativo?

 robertborba/institutomilenium

Na segunda quinzena de dezembro de 2024, observou-se, e nos primeiros meses de 2025 essa tendência se manteve com variações moderadas, uma alta do dólar como há bastante tempo não ocorria – talvez em momentos delicados como a pandemia do Covid-19 em 2021, a crise da bolsa de valores em 2008 e outros similares. Mas como pode ter havido uma alta do dólar sem nenhum evento externo catastrófico? E será que a alta foi tão relevante assim?

Vamos aos dados! Segundo o gráfico semanal da plataforma Investing.com, no dia 07/01/2024, o dólar fechou em R$ 4,93. Já no dia 29/12/2024, fechou em R$ 6,10. Uma diferença significativa que, goste-se ou não do governo, chama atenção. Cabe ressaltar que essa alta ocorreu de maneira mais enfática no mês de dezembro, fazendo o Banco Central realizar vendas de suas reservas, no montante de 32 bilhões de dólares, segundo a revista Exame.

Mas, afinal, por que essa alta? Houve mesmo esse ataque especulativo? Benjamin Graham, em seu livro O Investidor Inteligente, nos remete a diversos pontos de reflexão: investimento versus especulação, investidor defensivo versus investidor empreendedor, margem de segurança, análise fundamental, Sr. Mercado e outros tantos conceitos ainda relevantes. Graham aborda o conceito do Sr. Mercado, relatando o comportamento irracional dos agentes compradores e vendedores e como as emoções interferem nas atitudes desses agentes. Que fique entre nós: talvez o governo acredite mesmo nessa questão de irracionalidade do Sr. Mercado! Anedotas à parte, não houve sinais de irracionalidade no mercado, tampouco características típicas de um ataque especulativo, como colapso das reservas cambiais ou pânico generalizado dos investidores.

Vale apresentar a definição de um ataque especulativo. De acordo com o Manual de Comunicação da Secom, do Senado Federal:

“Ocorre quando investidores em uma moeda que está vulnerável ou fragilizada abandonam suas posições vendendo intensivamente essas divisas. Se o governo emissor da moeda não dispuser de reservas suficientes, pode ser obrigado a desvalorizá-la. Ocorre quando há probabilidade de uma desvalorização cambial, especialmente no caso de um país estar suscetível a esse ataque, apresentando déficits em sua balança comercial ou em transações correntes.”

O que houve foi o Sr. Mercado se posicionando de acordo com o risco fiscal que o governo federal vem causando. A alta do dólar tem grande parcela de influência da política fiscal do governo Lula, com gastos exorbitantes diante de uma receita elevada, mas com risco de estrangulamento financeiro da população. O Sr. Mercado, que de irracional não tem nada, observa cada movimento e toma suas atitudes para se proteger.

Contudo, seria simplista atribuir ao presidente a totalidade da responsabilidade pelas variações cambiais, especialmente em um mundo globalizado. De fato, atores como o FED – Federal Reserve, aplicando suas políticas monetárias nos EUA, impactam o mundo inteiro. Como? A manutenção de juros elevados pelo banco central americano, o FED, torna os ativos em dólar mais atrativos. Isso levou, no início de 2025, a uma intensificação do fluxo de capitais para os EUA, pressionando moedas de diversos países emergentes, incluindo o Brasil.

Outro fator que influencia o câmbio são as crises internacionais, como as incertezas no mercado de commodities e conflitos armados. Outros países emergentes como Argentina e Turquia também vivenciaram pressões cambiais similares em decorrência de políticas fiscais expansivas e instabilidade institucional, reforçando o caráter global do fenômeno.

Qual a solução? A principal e mais viável delas: corte de gastos. E isso vem ocorrendo? Não. Segundo dados de novembro de 2024, a dívida pública brasileira atingiu 77,7% do PIB frente a 71,7% no final de 2022, confirmando uma tendência de alta desde 2023, primeiro ano do governo Lula.

Uma reforma tributária, como a sancionada pela Câmara dos Deputados, pode ajudar a organizar essa dança fiscal que o Brasil vive. Pontos como simplificação tributária, não cumulatividade e cobrança no destino da produção são mecanismos positivos. Entretanto, essa mesma reforma indica que o Brasil poderá ter uma das maiores alíquotas de IVA (Imposto sobre Valor Agregado) do mundo, o que pode impactar o consumo interno e a competitividade do setor produtivo, ultrapassando os 26%, segundo a CNN.

Ensinamentos sobre como defender-se de momentos como o atual já foram abordados por Graham em sua obra. Cabe ao leitor, com apoio da comunicação descentralizada, tomar as devidas precauções quanto a possíveis movimentos cambiais futuros. Internamente, espera-se que o Banco Central avalie novas medidas para conter a volatilidade cambial, como ajustes na taxa Selic ou operações de swap cambial. Para isso, disciplina e paciência do investidor são essenciais.

*Robert Borba Silva é engenheiro de Transporte e Logística e sócio-administrador da Farmácia Mercúrio.




















publicadaemhttps://www.institutoliberal.org.br/blog/economia/ataque-especulativo/


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