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10:54
ANDRADEJRJOR
ELIANE CANTANHÊDE O ESTADO DE SÃO PAULO
Em política, não se dá
ponto sem nó, não se recusa buchada de bode e não se vai a uma festa só
por ir. Logo, a presença do vice-presidente Michel Temer no aniversário
de Marta Suplicy foi um gesto cheio de significados, deveras instigante.
Temer
- que é do PMDB, não vamos esquecer - tomou duas precauções
interessantíssimas. Avisou de véspera que o apoio do seu partido à
reeleição do prefeito petista Fernando Haddad pode ser, mas pode não
ser. E, além de sua bela mulher, Marcela, ele também levou para a festa
de Marta o ex-candidato peemedebista à prefeitura Gabriel Chalita, como
quem dissesse: esse não será empecilho à sua candidatura.
Soma
daqui, diminui dali, o resultado é que o vice-presidente da República
prestigiou a quase ex-petista Marta - que anda às turras com a
presidente Dilma Rousseff, o governo e o PT - numa festa em que não se
ouviu um só elogio ao PT e todas as apostas foram a de que Dilma terá
tempos cada vez piores pela frente. Parecia festa da oposição. Talvez
tenha sido mesmo.
Então, o que Temer foi fazer lá? Que recado ele
quis mandar com o gesto? Que é amigo de Marta desde criancinha, que
adora docinhos e champanhe ou... que o PMDB está querendo cada vez mais
distância dos petistas, não se mete em briga da família PT, tenta se
descolar da crise e parte para uma linha, no mínimo, de independência?
Se a casa cair, que caia na cabeça só do PT.
Como contraponto à
presença de Temer, só havia um petista na festa de Marta, que milita (ou
militou) apaixonadamente no partido durante 35 anos. E esse petista era
o senador Delcídio Amaral, que, se não botou a boca no trombone como
Marta, também não está nada afinado com o PT. Um encontro, portanto, de
insatisfeitos. Vá-se saber se Delcídio também não tem lá seus planos de
fuga e quis mandar o recado. Político não vai à festa só por ir...
Marta
não tem mais essa dúvida e já passou da fase de mandar recados. Está
com um pé fora do PT e outro dentro do PSB, sem retorno. Ela é uma
liderança em busca de um partido. O PSB, depois da morte de Eduardo
Campos, é um partido em busca de uma liderança. Logo, é a fome com a
vontade de comer.
Marta explicava que não convidou Lula porque
não faria sentido, já que comunicou a ele que está fora e quais serão
seus futuros movimentos. Mas ela quer "dar passinho por passinho", ou
seja, uma coisa de cada vez. Deve sair do PT em abril, esperar um mês,
um mês e pouco, e então se filiar formalmente ao PSB em junho, antes do
recesso do Congresso.
Até lá, vai costurando apoios e evitando
que as negativas para integrar outras siglas arranhem suas
possibilidades de coligação nas eleições municipais, tanto contra o
petista Haddad quanto contra o candidato tucano, seja quem for. Aliás,
foram à festa representantes do PTB, do PPS, do PDT, do PP... Sem falar,
claro, do PSB e do PMDB.
E, se não havia nenhum cacique tucano,
Fernando Henrique Cardoso fez questão de lhe mandar um abraço por um
amigo comum. Afinal, nunca se pode descartar uma aliança do PSB de Marta
com o PSDB de FHC num eventual 2.º turno contra o PT nas eleições de
2016 em São Paulo.
Aos 70 anos, portanto, Marta não fez só uma
festa, fez uma demonstração claríssima de que ela sabe o que quer e para
onde está indo. Mostrou o tabuleiro e qual será o seu jogo. Está linda,
feliz, sacudindo a poeira, dando a volta por cima e cheia de planos.
Seu grande sonho, ou sonho mais imediato, é voltar à prefeitura, mas o
céu é o limite.
Se fosse só ela, já seria muito, mas o passo de
Marta para fora do PT pode ser o primeiro de muitos num momento em que o
Titanic faz água para todo lado e Dilma vai buscar a bóia com... o MST.
Como já disse a própria Marta ao Estado, "ou o PT muda, ou acaba".
EXTRAÍDODAVARANDABLOGSPOT
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