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10:55
ANDRADEJRJOR
FERREIRA GULLAR FOLHA DE SP
É chanchada ou não é? Esse pessoal se esqueceu de que é mais fácil pegar um mentiroso do que um coxo
Nestas
últimas semanas --antes das manifestações do dia 15-- a sensação que
tive, como espectador da atual política brasileira, foi de estar
assistindo a uma chanchada.
Por exemplo, não poderia definir de
outro modo o depoimento de José Sergio Gabrielli, ex-presidente da
Petrobras, na CPI da Câmara para investigar os envolvidos na operação
Lava Jato.
Antes dele, depôs Eduardo Cunha, do PMDB, que se prontificara a ser interrogado na mesma CPI.
Falou
muito à vontade, dizendo-se vítima de perseguição por parte do
procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Não apresentou nenhuma
prova do que afirmava, mas contou com o apoio unânime dos integrantes da
comissão, sem distinção de partidos: do PSDB ao PMDB, do PT ao PSOL,
todos teceram elogios ao deputado que é, por coincidência, presidente da
Câmara de Deputados. Segundo alguns deles, o objetivo de Janot seria
desmoralizar o Congresso nacional. Por que razão, ninguém sabe.
Mas
hilariante mesmo foi o depoimento de Gabrielli, que começou tecendo
intermináveis louvores à Petrobras, que estaria no auge de sua
prosperidade. Disse isso de cara limpa, muito embora todos saibam que o
valor da empresa tem caído no mercado, e sua credibilidade vem sofrendo
graves perdas no plano nacional e internacional.
A impressão que tive, ao ouvi-lo, foi a de que se referia a uma outra empresa, por todos desconhecida.
Ele
falava e eu mal acreditava no que ouvia, especialmente pela maneira
desinibida com que afirmava coisas que nenhuma relação tinham com o que
diariamente informa a imprensa e afirmam os especialistas na matéria.
A
única explicação para tal atitude surrealista só pode ser uma firme
disposição de desconhecer a realidade e enganar abertamente a opinião
pública.
Sucede que, àquela altura do depoimento, ele ainda não havia atingido o ápice de seu descompromisso com a verdade dos fatos.
Parece-me
que o atingiu quando lhe perguntaram se, como presidente da Petrobras,
nada sabia das concorrências fraudadas e das propinas que eram divididas
entre altos funcionários da empresa e representantes dos partidos
políticos ligados ao governo, como o PT, o PMBD e o PP.
Ele
sorriu ironicamente e garantiu que, na estatal, não se sabia disso
--mesmo porque a tal corrupção sistêmica, apontada pelos delatores,
nunca aconteceu.
E sabem por que nunca houve? Porque a
fiscalização, feita por um órgão da própria Petrobras e por órgãos
internacionais de alta eficiência, nunca captou nenhum sinal de que
estivessem ocorrendo falcatruas na empresa.
Ora, se tais organizações nada detectaram é porque nada havia.
Eu
estava perplexo com o que ele afirmava e ainda mais pelo à vontade como
o fazia. Conforme apurou a operação Lava Jato, graças à delação de
Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco, centenas de milhões de reais foram
distribuídas como propinas, inclusive a representantes de partidos como
João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, ou seja, do mesmo partido de
Gabrielli.
Só Barusco devolveu mais de R$ 182 milhões roubados da
Petrobras, mas, de acordo com Gabrielli, se a fiscalização nada captou,
nada foi roubado.
A chanchada, porém, não acaba aí. Na
sexta-feira, dia 13, isto é, na semana passada, a CUT decidiu mobilizar
os trabalhadores para manifestações públicas, em todo o país, em defesa
da Petrobras.
Se realmente fosse isso, teria de protestar contra
aqueles que a saquearam, ou seja, os funcionários nomeados e mantidos
por Lula e os partidos que compõem o governo petista. Ledo engano: a
manifestação foi contra os que denunciaram a corrupção, porque dizem,
como Gabrielli, Lula e Dilma, que tudo foi inventado para criar
condições de privatizá-la.
Como se não bastasse, a CUT dizia
protestar contra o ajuste fiscal, que prejudica os trabalhadores, mas,
ao mesmo tempo, defende Dilma, que autorizou o ajuste.
É
chanchada ou não é? Dilma, para se eleger, prometeu uma coisa e, eleita,
faz o contrário. Lula, que patrocinou o saque à Petrobras, faz comício
para defendê-la.
Dilma, que negava a existência da corrupção,
passou a se dizer responsável por sua apuração. Esse pessoal se esqueceu
de que é mais fácil pegar um mentiroso do que um coxo.
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