O ESTADO DE S.PAULO
Em meio à crise política
provocada pela incompetência do governo Dilma, o Palácio do Planalto e o
PT, não necessariamente articulados entre si, iniciaram esta semana uma
ofensiva junto à chamada base aliada na tentativa de garantir um mínimo
de apoio à adoção das medidas necessárias, algumas delas impopulares,
para botar em ordem as contas públicas e retomar o caminho do equilíbrio
fiscal e do desenvolvimento econômico, que são precondições para a
manutenção e a ampliação das conquistas sociais.
O desafio que se
coloca diante de Dilma Rousseff e do lulopetismo é enorme.
Principalmente porque, antes de mais nada, Dilma precisa se entender com
seu próprio partido e entrar em acordo com o lulopetismo sobre
objetivos comuns que se estendam além de um obsessivo projeto de poder. E
a maior dificuldade para esse entendimento parece ser a mediocridade
dos quadros mais qualificados do partido, a incapacidade que revelam de
enxergar um palmo além do nariz e de seus próprios interesses imediatos.
Essa
espantosa mediocridade está estampada em manifestação, muito
compreensivelmente off the record, de um senador petista colhida pelo
jornal Valor em matéria que trata exatamente dos esforços do partido
para rearticular sua base de apoio parlamentar. Incomodado com a posição
incômoda e "ridícula" em que, em sua opinião, o governo colocou suas
bancadas no Congresso em relação ao debate sobre as medidas de ajuste
fiscal que estão sendo propostas pela equipe econômica, desabafou o
senador: "Estamos agora com o PT defendendo a tese do patrão e os
tucanos, a manutenção dos direitos trabalhistas".
Essa redução do
problema a termos tão banais é a tradução mais fiel do maniqueísmo que
inspira o discurso político de Lula, o defensor do Bem, do Reino da Luz,
em luta contra os representantes do Mal, do Reino das Trevas.
Só
pode ser daí que o ilustre senador petista tirou a brilhante ideia de
que o grande problema do País é o conflito entre dois valores
reciprocamente excludentes: "a tese do patrão" e "a manutenção dos
direitos trabalhistas". Não ocorre nem por um instante ao parlamentar
que seu papel, como membro de um órgão de representação, antes de
defender a "tese do patrão" ou "os direitos trabalhistas" é o de
defender prioritariamente os interesses do País. O acirramento do
conflito entre os interesses naturais e legítimos dos vários segmentos
sociais só leva à desagregação nacional, pois a expressão mais autêntica
do espírito de nação consiste na conciliação democrática dos interesses
divergentes abrigados no seio da comunidade.
É claro que os
vários segmentos sociais, numa sociedade democraticamente
institucionalizada, merecem sempre atenção e tratamentos diferentes por
parte do governo que representa a todos e - por um imperativo de
justiça, e sempre rigorosamente de acordo com a lei - tem a obrigação de
estabelecer prioridades no campo social. Mas a prioridade maior será
sempre a harmonização dos interesses conflitantes em benefício do bem
comum.
Não é isso o que, por conveniência eleitoral, pregam os
populistas que estão no poder. Não é isso que Lula e o PT querem para o
Brasil quando reduzem os grandes problemas nacionais à opção sectária do
"nós" ou "eles".
E é exatamente por isso que Dilma Rousseff está
metida até o pescoço numa encrenca da qual procura se livrar
mobilizando seus comandados e as (poucas) forças políticas que a ela se
declaram fiéis. Não será fácil. A presidente passou quatro anos
cometendo erros. Não os admite publicamente. Mas foi obrigada, por
imposição dos fatos, a defender medidas que contrariam seu discurso
eleitoral populista. Essa contradição está lhe custando a credibilidade.
Já ao PT provoca enorme desconforto, pois um partido politicamente
medíocre e moralmente carcomido não entende que, para garantir os
"interesses do povo", é preciso a coragem de assumir, quando necessário,
decisões impopulares.
Em 2002, o PT se desdisse, com a Carta aos
Brasileiros. Mas nunca adotou um código ético nem adquiriu respeito
pelo povo. Está, agora, com o petrolão seguindo-se ao mensalão e com a
revelação da sua incompetência em todas as áreas do governo, pagando o
preço da desídia. Lamentavelmente, os brasileiros arcam com o aval dado a
pessoa que não merecia confiança.
EXTRAÍDA DE AVARANDABLOGSPO
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