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23:44
ANDRADEJRJOR
Merval Pereira OGLOBO
Em
busca de apoio político, a presidente Dilma deu mais um passo em falso ao ir ao encontro do líder do MST José Pedro Stédile, aquele cujo
exército Lula ameaçou convocar caso a situação política o exija.
Diante
do incômodo que a expressão causou entre os cidadãos comuns, e,
sobretudo, entre os militares, que fizeram chegar ao ministro da Defesa
Jacques Wagner o desconforto com a alegada metáfora, fora de hora por
belicosa e por colocar-se em contraponto ao Exército brasileiro, a
presidente Dilma não poderia ter lugar mais polêmico para ir do que o
assentamento Lanceiros Negros, em Eldorado do Sul, no Rio Grande do Sul,
sua terra.
E
ainda por cima ouviu de Stédile, mais que conselhos, orientações de
como deve governar. É bem verdade que a chamou de “quase uma santa”, e
prometeu defendê-la dos “golpistas” que falam em impeachment. Mas para
tal deu sua receita: disse que nenhum ministro deve “se sentir superior
ao povo”, e recomendou que eles sejam “mais humildes” para ouvir “o
povo, as nossas organizações, para saber onde tem problema”.
“Por
que o seu (Joaquim) Levy não vem discutir conosco? Não é só cortar e
cortar”. Stédile chegou a propor a Dilma que chame o povo “para baixar a
taxa de juros”. Também criticou a “classe média reacionária” que foi às
ruas no dia 15 de março para protestar contra o governo, e anunciou uma
manifestação do MST no dia 7 de abril para defender o governo.
Aproveitou
para conclamar a presidente da República para sair do Palácio do
Planalto e ir também para as ruas. Como da outra vez, dias antes de uma
manifestação que já está sendo convocada contra o governo Dilma para o
dia 12 de abril. Se havia dúvidas sobre a viabilidade dessa manifestação
entre os que a organizam pelas redes sociais, a marcha do MST deve
indicar que ela se torna necessária.
Dilma,
em entrevista depois dos atos do MST, defendeu o direito de Stédile
dizer o que acha, e preferiu criticar os que se manifestaram contra ela
nas ruas do país. “Tem gente no Brasil que aposta no quanto pior,
melhor. São os chamados pescadores de águas turvas. O que querem não me
interessa. O fato é que apostam contra o Brasil. Você não pode apostar
contra o seu país”.
Esse
naturalmente é mais um equívoco de Dilma, em busca de apoio fora do
jogo político tradicional, mesmo que tenha afirmado que não concorda com
tudo o que Stédile disse.
Essa é mais uma característica dessa crise: a presidente da República é minoritária dentro de seu campo político.
Ela
depende do PMDB, do PT, do ex-presidente Lula, e até mesmo do MST, se
levarmos em conta que foi atrás dele num momento especialmente delicado
da vida nacional, quando as ruas passaram a ser o palco da ação política
a favor e contra seu governo e o PT.
A
manifestação dos chamados “movimentos sociais” – MST, CUT, UNE - na
sexta-feira que antecedeu o grande protesto que colocou mais de 2
milhões de pessoas nas ruas do país contra o governo Dilma, revelou uma
fragilização desses movimentos que frustrou o objetivo de demonstrar
força contra a “elite de mierda”, como Stédile se referiu à oposição em
comício recente na Venezuela em favor de Maduro.
Nada
disso impedirá, e ao contrário aumentará a pressão, para uma reforma
ministerial desejada, por razões distintas, por todas as forças que
fazem parte do grupo político que a sustenta. Dilma terá que resistir
entrincheirada no Palácio do Planalto onde acolhe um grupo de apoiadores
minoritários entre as diversas facções do PT.
A
reforma que a esquerda petista quer não é a mesma do PMDB, e o que o
MST quer não combina com o que o governo pretende para o agronegócio
brasileiro. Neste momento, o arroubo de negar uma reforma ministerial
mais ampla é mais uma tentativa de firmar sua liderança, e deixar de ser
vista como um fantoche do Lula.
Mas
é uma tentativa que tem pouca chance de vingar, pois ela não tem força
política para esse tipo de arroubo. Corre o risco de queimar a língua
mais cedo do que se pensa.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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