José Roberto de Toledo O ESTADO DE SÃO PAULO
Se o Twitter servisse de termômetro, Cid Gomes teria se saído menos pior
aos olhos do público do que Eduardo Cunha, no bate-boca entre o
ex-ministro da Educação e o presidente da Câmara. No mundo real, Cid
perdeu o cargo por causa de quem chamou de achacador. No virtual, o
peemedebista teve uma menção positiva para sete negativas - segundo
levantamento do Ibope DTM. No caso do cearense a proporção também foi
negativa, mas "só" de 2 para 1. Cunha não perdeu o sono por causa disso.
O tuíte mais popular sobre o presidente da Câmara foi escrito pela
ex-deputada Luciana Genro, do PSOL gaúcho: "Parece que Dilma entregou a
Presidência para Eduardo Cunha; agora ele anuncia demissão de ministro".
É um bom resumo do que foi a repercussão do episódio na opinião
pública: Cunha reforçou sua fama de mau às custas do enfraquecimento do
governo.
O caso poderia virar episódio de House of Cards, o seriado político mais
badalado do Netflix. Na série, o protagonista Frank Underwood vive às
últimas consequências o seu moto: "As pessoas respeitam o poder, não a
honestidade". Underwood sai da liderança do partido governista no
Congresso para a Presidência dos EUA sem receber nem sequer um voto. Ao
tomar posse da Casa Branca, zomba: "Democracia é tão superestimada".
Em Brasília, Cunha deu mais uma demonstração de força graças a Cid. Fez
média com os colegas ao posar de defensor da categoria e ainda ganhou
manchetes. Não agradou todo o eleitorado, só a parte que lhe interessa.
De quebra, obscureceu a divulgação do plano anticorrupção do governo.
Cunha recebeu mais do que o dobro de menções no Twitter do que o pacote
de Dilma.
Esse caso mostra, pela enésima vez, que a principal força de oposição à
presidente e ao PT é interna, não externa. O PMDB e seus líderes são
capazes de impor mais desgaste ao governo do que qualquer partido de
oposição, muito mais do que o PSDB. Não que os peemedebistas precisem se
esforçar para isso.
Na maioria das vezes, os dilmistas oferecem a oportunidade para o PMDB
dar o troco e sair por cima. Isso aconteceu sempre que os petistas
tentaram uma manobra para enfraquecer o suposto aliado. Cunha e Renan
Calheiros se elegeram presidentes da Câmara e do Senado, inviabilizaram o
novo partido de Kassab - que o PT sonhava contrapor ao PMDB -, criaram
CPIs que são uma espada sobre a cabeça do governo e guardam na manga a
carta do impeachment. Como diz Frank, "amigos viram os piores inimigos".
Onde não estamos. Foi
mais uma trapalhada de comunicação. Conheceu-se o diagnóstico - ou um
diagnóstico - que o primeiro escalão federal faz da situação política do
governo: "Caos". São oito páginas sobre o que seriam as causas que
levaram Dilma a uma impopularidade sarneyziana, e raras menções à
economia. Quando muito, para dizer que a militância petista não
compreendeu o ajuste proposto, ou que não adianta falar que a inflação
está sob controle.
Ao menos a presidente desqualificou o documento. Pelo que disse em sua
entrevista coletiva e reforçou em declarações subsequentes, Dilma parece
ter se dado conta que não lhe resta outra saída senão aprovar o ajuste
fiscal de Joaquim Levy no Congresso - o que significa, basicamente,
cortar gastos. E que não há como conseguir os votos necessários para
aprovar os cortes sem engolir sapos do PMDB. Azia é melhor do que
inanição.
A culpa é do Supremo. Seminário
conjunto da FGV e da USP sobre reforma política. Alguns dos melhores
cientistas políticos do País, e uma conclusão: a culpa é do Supremo. Não
tivessem os ministros do Tribunal acabado com a cláusula que barrava os
partidos nanicos nem dado tempo de TV e dinheiro a partidos de ocasião,
não se falaria em reforma política. Aliás, estudo apresentado lá mostra
que, pela história, não se falará mais no assunto já em agosto. Ainda
bem.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014
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