por Sandro Vaia Com Blog do Noblat - O Globo
“O Partido dos Trabalhadores expressa sua solidariedade a João Vaccari
Neto e sua família, confiando que a verdade prevalecerá no final."
O PT perde o pelo mas não perde o vício. Quando o condenado, o
indiciado, o acusado, o suspeito não são ainda “heróis do povo
brasileiro” e não exibem suas capas de superman e não erguem os seus
punhos guerreiros, têm a solidariedade incondicional do partido, o que é
bom para cimentar pactos de “omertá”, mas tem pouco a ver com práticas
republicanas e democráticas.
A acusação a Vaccari não é jogar papel de bala na calçada nem furar a
fila do cinema, é uma acusação séria. Segundo os procuradores do MP, ele
desvia recursos para o PT há 10 anos.
É pacífico que uma acusação não é uma condenação, e que a presunção de
inocência é um princípio pétreo, mas o PT, que se perdeu em debates
internos se deveria ou não afastar o secretário do seu posto antes da
prisão, coloca em risco a sua reputação (mas que reputação? -você pode
perguntar maliciosamente) ao solidarizar-se tão incondicionalmente com
um réu.
Se já não fosse uma posição exótica e recorrente do partido sempre
solidarizar-se com seus suspeitos, acusados, réus e até mesmo
condenados, eis que o líder do partido na Câmara, o espetacular deputado
Sibá Machado, aquele para quem a CIA está atrás de tudo, a prisão de
Vaccari foi uma “prisão política".
Há já algum tempo que o PT perdeu o medo do ridículo, e talvez fosse
conveniente ao partido pensar em contratar uma empresa de administração
de crises, do tipo daquela do seriado televisivo “Scandal”, pra dar
conta do sobrecarregado expediente do partido no item “questões
nebulosas”. Não há’ Ruy Falcão nem Sibá Machado que dê conta de carregar
esse fardo sozinho.
Estoicamente, Vaccari desta vez se deixou prender sem obrigar os
policiais a pular o muro, e disse, serenamente, que já esperava pelas
algemas. Sua cunhada, acusada de estar envolvida em alguma de suas
“enrascadas” (para usar o vocabulário logístico) até o momento em que
escrevo, era considerada foragida, e a mulher e a filha tinham algumas
coisas a explicar.
O titular deste blog, Ricardo Noblat, citando o repórter Paulo Celso
Pereira, já teve oportunidade de mostrar a extraordinária eficácia de
Vaccari como arrecadador. Um verdadeiro mão de ouro. E cita:
"Em 2007 e 2009, últimos anos não eleitorais antes de Vaccari virar
tesoureiro, o PT arrecadou, respectivamente, R$ 8,9 milhões e R$ 11,2
milhões.”
"Boa parte das doações se originaram justamente de empreiteiras
investigadas na Operação Lava-Jato, como OAS, Odebrecht, Camargo Corrêa,
UTC e Galvão Engenharia."
"Nos dois anos não eleitorais seguintes quando Vaccari já cuidava da
grana, a arrecadação disparou: foram R$ 50,7 milhões em 2011 e R$ 79,8
milhões em 2013.”
Na mesma época, apurou o repórter, o PSDB arrecadou 2,3 milhões (2011) e 22 milhões (2013).
Portanto, além do tradicional título de “herói do povo brasileiro”, como
os presidiários anteriores, Vaccari carrega mais do que o simbolismo,
porque na verdade vale quanto pesa e quanto carrega em segredos.
Toda solidariedade é pouca a um companheiro tão valioso.
extraídadoblogrota2014
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