Ricardo Galhardo - O Estado de São Paulo
Com caixa avariado devido à falta de doações de empresas, que se retraíram com denúncias de corrupção na estatal, partido de Dilma Rousseff adota contenção de despesas em seus diretórios, que inclui corte de pessoal e de passagens aéreas
Demissões, cortes de gastos, aperto orçamentário. Não é apenas o ajuste
fiscal proposto pelo governo Dilma Rousseff que tem incomodado o PT. Em
meio a uma queda brutal de arrecadação provocada pela redução das
doações privadas desde que o tesoureiro João Vaccari Neto passou a ser
investigado pela Operação Lava Jato, o partido está enfrentando um
ajuste drástico em suas próprias contas.
Depois de mais de uma década de bonança, o partido está sendo forçado a
economizar por falta de dinheiro, mesmo diante de um forte aumento do
Fundo Partidário neste ano – o Congresso aprovou a elevação de R$ 289,56
milhões pagos em 2014 para R$ 867,56 milhões.
O uso de passagens aéreas por dirigentes foi limitado, diretórios
regionais demitiram funcionários, o aluguel de espaços para eventos foi
otimizado e até o uso de telefones foi restrito.
Integrantes da Executiva Nacional do PT, órgão responsável pela
administração direta do partido, tiveram a verba de telefonemas reduzida
de R$ 500 para R$ 100. Muitos deles preferiram trocar de celular,
optando por operadoras mais baratas.
Verbas com táxi, combustível, alimentação, serviços técnicos de
terceiros, advogados e gráficas também foram contingenciadas. Segundo a
direção do partido, a única área que não foi afetada é a de comunicação,
para onde são direcionados todos recursos economizados em outras
despesas. Apesar disso a implantação da TV PT está atrasada em quase um
mês.
Na reunião do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com presidentes
estaduais e dirigentes, na segunda-feira passada, quase toda a executiva
petista viajou com passagens pagas do próprio bolso ou compradas com
pontos acumulados em programas de fidelidade.
Desde o início deste ano, o único dirigente que tem autonomia para
reservar passagens aéreas sem pedir autorização é o presidente nacional
do partido, Rui Falcão. Depois dos gastos com pessoal, que em 2013
somaram R$ 13 milhões, as viagens são o principal item de despesas do
PT, com R$ 7 milhões.
No aniversário de 35 anos realizado em Belo Horizonte, em fevereiro,
dirigentes de outros Estados que participaram de um seminário de
formação política pagaram as despesas do próprio bolso. Vários deles
percorreram centenas de quilômetros de automóvel e fizeram vaquinhas
para pagar o combustível. Alguns se hospedaram de favor nas casas de
amigos ou correligionários.
A festa contrastou com a época das vacas gordas, quando dezenas de
convidados eram hospedados nos melhores hotéis das cidades com todas
despesas custeadas pelo partido. O evento, que nos primeiros anos do PT
no governo incluía shows musicais, jantares, bancas de charutos e
produções hollywoodianas, este ano contou apenas com um ato político no
Minas Centro. A música ficou por conta de um violeiro solitário.
Estados. Embora
tenham relativa autonomia financeira em relação ao diretório nacional,
os diretórios estaduais do partido também estão fazendo ajustes. O
partido não tem números fechados mas estima que mais de 30 pessoas foram
demitidas nos escritórios estaduais do partido este ano. Os mais
afetados foram Rio Grande do Sul e São Paulo que, além de perderem o
apoio nacional, tiveram os repasses do fundo partidário suspenso por
erros de contabilidade.
Em 2013, ano do último balanço disponível, a direção nacional repassou
R$ 92,5 milhões para estados e municípios, dos quais cerca de R$ 35
milhões são frutos de doações privadas – o restante saiu do Fundo
Partidário.
A crise financeira do PT está diretamente ligada à Operação Lava Jato.
De acordo com depoimentos colhidos pela Polícia Federal, empresas que
prestavam serviços à Petrobrás repassavam parte da propina ao PT por
meio de doações oficiais ao partido. Segundo eles, o operador do esquema
era Vaccari, que é réu na ação que julga os desvios na estatal. Embora
tenham sido feitas dentro da legislação eleitoral, com recibos e
registros contábeis, as doações são investigadas como dinheiro de
corrupção. Isso afugentou outros doadores. Vaccari tem dito que as
doações privadas ao PT simplesmente acabaram.
De acordo com a prestação de contas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
relativa a 2013, as contribuições de pessoas jurídicas foram o
principal item de receitas do PT, responsável por R$ 79,7 dos R$ 170
milhões recebidos pelo partido. Em segundo lugar vem o Fundo Partidário,
com R$ 58,3 milhões e em terceiro o “dízimo” cobrado dos filiados que
ocupam cargos eletivos ou comissionados em administrações petistas, de
onde saíram R$ 32,6 milhões.
Vaccari diz que não há porcentual específico para o ajuste, mas confirma
a contenção. Segundo ele, as atividades fundamentais do PT serão
preservadas.
extraídadoblogrota2014





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