Postado por: DANIELA MARTINS
Ex-presidente age para defender base social e legado político
O ex-presidente Lula já havia feito críticas à política econômica, mas evitava se posicionar sobre assuntos em debate entre o governo e o Congresso. No entanto, no caso da ampliação das regras da terceirização, ele atropelou a presidente Dilma Rousseff e o governo para defender uma bandeira política da base social que sempre votou nele.
Num momento de queda de prestígio do governo, no qual o capital político do próprio Lula é corroído, como mostram as pesquisas, ele agiu para responder aos apelos de sindicalistas e de trabalhadores que o procuraram dizendo que o governo já havia jogado a toalha.
A presidente deu uma entrevista a blogueiros, na terça-feira, em que não se posicionou contra a terceirização. Já Lula falou abertamente contra o projeto durante um ato em São Paulo, pedindo a sua rejeição e dizendo que o PT e a CUT deveriam lutar contra a proposta.
Enquanto Lula se manifestava contra o projeto que amplia a terceirização, o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, dizia que a presidente não vetaria o que fosse aprovado pelo Congresso.
É a primeira vez que Lula entra em choque direto e público com Dilma. E é possível que isso aconteça em outros casos de agora em diante, quando ele discordar de algo que julgue uma ameaça ao seu legado na Presidência.
Na Câmara dos Deputados, parecia que o projeto seria aprovado. Mas, com a votação do texto básico na semana passada, cresceu um movimento no Congresso e fora dele contra a ideia.
O PT e a CUT conseguiram pressionar deputados que votaram a favor das mudanças nas leis trabalhistas. Ontem, na Câmara, havia relatos de deputados dizendo que, ao voltar para seus Estados no fim de semana, ouviram críticas ao projeto.
Com o adiamento da votação para a semana que vem, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, sofreu a sua primeira derrota política no embate pelo controle da pauta de votação. Cunha já havia mudado de ideia em relação a uma mordomia que se pretendia conceder aos deputados, dando aos cônjuges direito de ter passagem aérea. O recuo dele no caso das passagens se deveu a uma pressão da opinião pública.
No caso da terceirização, houve pressão da opinião pública, mas, sobretudo, um recuo de líderes partidários que sempre jogaram com Cunha desde sua vitória para presidir a Câmara e que ficavam em posição contrária à do PT.
O PSDB, por exemplo, que havia votado em massa a favor da terceirização, mudou de posição nos últimos dias. Ontem, o PT, orientado pelo ex-presidente Lula, derrotou até o mesmo o governo, que já negociava concessões para aprovar a proposta.
Cunha perdeu uma batalha. A guerra ainda continua, porque a votação foi adiada para a semana que vem. Mas senadores já dão a entender que não pretendem aprovar o projeto. Ou seja, a ampliação da terceirização, que era dada como certa, pode sofrer muitas mudanças ou ficar parada no Congresso.
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