por Gaudêncio Torquato Com Blog do Noblat - O Globo
O copo está transbordando. Não dá mais para disfarçar. Os modelos da velha política e da economia se esgotam. O povo quer ver propostas concretas, viáveis, simples
A classe política está apavorada. Recebe tiros de muitos lados. Do Lava
Jato da Petrobras e das ruas. Os estarrecedores índices de desaprovação
dos atores políticos os deixam confinados na UTI do Parlamento. Como
sair dali? Como resgatar parcela da boa imagem? Difícil tarefa no curto
prazo. Não resta outra coisa aos representantes do povo e dos Estados
(deputados e senadores), neste momento de rebuliço e mobilização social,
que uma imersão profunda no terreno ético e uma aprendizagem rápida
sobre o estado social do país. A análise sobre as razões que os jogam no
fundo do poço da descrença poderá se transformar na chave para
reencontrar o tempo perdido. Eis um breve roteiro para uma sobre
credibilidade.
Mais ação, menos discurso –
O verbo de palanque está saturado. Entra por um ouvido, sai noutro.
Promessas não mais comovem. A sociedade, como um todo, quer ver ação.
Decisão. Avanços. Reformas.
Identidade –
Nesse momento, os espaços de vazio se expandem. Hora de ocupá-los com
uma forte identidade. Discurso com personalidade. Hora da verdade. A
imagem do político não pode ser diferente de seu conceito. Banhar o
perfil com as linhas da lealdade, coerência, honestidade e senso do
dever. Não querer passar imagem acima da identidade. Querer ser o que
não é.
Representação -
Representar o povo significa escolher as melhores alternativas para o
bem estar coletivo. Um político sério se preocupa com rumos permanentes e
medidas condizentes com as possibilidades das administrações (federal,
estadual e municipal). Povo distingue demagogia de sinceridade.
Sabedoria -
Sapiência não significa vivacidade. Sabedoria é mescla de aprendizagem,
compromisso, equilíbrio, administração de conflitos, busca de
conhecimentos, capacidade de convivência e racionalidade. A vivacidade é
a máscara do fisiologismo.
O cheiro do povo -
O cheiro do povo invade as ruas, os ônibus, os escritórios, as
fábricas, até as pequenas cidades. Importa ir ao encontro do povo.
Democracia participativa dá as caras. Poder centrípeto emerge das
margens. O povo deixa o silêncio e abre a locução. As tarefas de
Brasília não impedem que o representante respire os ares das vielas
escuras dos centros e fundões do país.
Proximidade –
As pessoas querem sentir os políticos mais próximos. Capazes de falar
uma linguagem que expresse suas demandas, angústias e expectativas; para
ganhar credibilidade, o representante deve se mostrar, aparecer,
conversar olho no olho com suas bases.
Combate à corrupção -
A corrupção está no alvo dos órgãos de controle. Que decidiram ir fundo
para descobrir o rastro do dinheiro desviado. Denúncias sobre
negociatas e trocas de favores ilícitos vão continuar a ser o prato da
mídia.
Propostas concretas –
O copo está transbordando. Não dá mais para disfarçar. Os modelos da
velha política e da economia se esgotam. Estão saturados. O povo quer
ver propostas concretas, viáveis, simples. A população dispõe de
entidades que a representam em diversos foros, algumas delas com atuação
política tão densa quanto o Congresso. Resta ao político atentar para
os novos polos de poder que se multiplicam no arquipélago político.
Simplicidade e modéstia -
Um homem público não precisa se vestir com o manto divino. A honraria
que cargos conferem é passageira. Mandatos pertencem ao eleitor. Ser
simples não é balançar crianças no colo, comer cachorro quente na
esquina ou gesticular para famílias nas calçadas. A simplicidade é o ato
de pensar, dizer e agir com naturalidade. Sem artimanhas e maquiagens.
Celeridade –
A sociedade está na frente da política. Anda mais rápida. Está cansada
de patinação política, o fato de a velha política continuar a puxar o
país para o passado.
Autonomia –
O cidadão age com autonomia. Torna-se mais consciente, crítico e
exigente. Banha-se nas águas da Cidadania. Significa que conserva olhar
mais apurado para os atores políticos.
Estado e Nação -
O político pode até lutar por um Estado diferente da Nação que o povo
quer. A Nação é a Pátria, que acolhe, que orgulha o povo; é o território
onde os cidadãos se sentem bem e gostam de viver e constituir um lar. O
Estado é a entidade técnico-jurídico-institucional, comprimida por
interesses e dividida por conflitos, que pessoas de diversas classes
estão sempre a criticar. Aproximar o Estado da Nação constitui a missão
basilar da política. Compromisso cívico inegociável. O Brasil de hoje
exibe esses contornos.
EXTRAÍDADOBLOGROTA2014





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