por Aécio Neves FOLHA DE SÃO PAULO
Após nove meses de ausência provocada pela campanha presidencial,
agradeço à Folha o convite para retornar a este que é um dos mais
importantes espaços da imprensa brasileira.
Como já fiz antes, recebo esta responsabilidade como uma oportunidade
para refletir sobre o Brasil, respeitando as diferenças de pensamento e
os princípios democráticos, sem, no entanto, me omitir diante dos graves
problemas que dominam o quadro político nacional.
Certo é que, desde a minha última coluna, em junho de 2014, a nossa situação se agravou muito.
Há hoje, dispersa, uma sensação preponderante de que o país vai mal e
piora. São visíveis as contradições do governo central e seu crescente
distanciamento da realidade.
Fatos consumados, como o aumento do preço da energia, da gasolina, de
impostos e dos juros; o flagrante descrédito internacional; a inflação
que torna mais custosa a sobrevivência; a precariedade dos serviços
públicos, em especial da segurança e do atendimento à saúde, além da
tentativa de, sem qualquer diálogo com a sociedade, cortar direitos dos
trabalhadores --medida feita justamente pela presidente que disse que
jamais o faria-- geram forte indignação e tornam o cenário ainda mais
delicado.
A esta altura, o governo não tem respostas para suas próprias
incoerências e vive grave paralisia diante das múltiplas crises --de
gestão, econômica, política e ética. Ao final, são problemas demais e
providências de menos, confirmando a ausência de rumo.
A inquietação e o temor pelo futuro se traduzem no risco evidente da
perda de conquistas importantes, como a estabilidade econômica e os
avanços sociais. Está claro que as grandes causas nacionais foram
deixadas pelo caminho.
As oposições no país têm consciência dos seus deveres, enormes e
intransferíveis. Sabem que é crucial impedir que se fragilizem as
instituições e que se coloquem em risco a democracia, a liberdade e os
direitos de cada cidadão.
Nunca as atenções estiveram tão voltadas para o mundo político, mas a
verdade é que quem estiver olhando só para ele não terá uma visão
completa da realidade.
Um outro protagonista está assumindo, cada dia mais, um papel relevante:
o sentimento do povo brasileiro, que começa a transbordar nas conversas
em casa, nas ruas, no trabalho.
Ele reflete inquietude, que pode gerar mais participação e
responsabilidade coletiva. Sinaliza a existência de um povo se
apropriando do que lhe pertence: o seu presente e os rumos do seu
futuro.
Neste trecho de história, diante de tudo o que está acontecendo, essa é a melhor notícia.
MATÉRIAEXTRAÍDADEROTA2014
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