EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
O incômodo e os
prejuízos causados pelo protesto dos caminhoneiros, que paralisou
rodovias em pelo menos sete estados do país nos últimos dias, não
constituíram fato isolado. É mais uma das pontas da herança que a
presidente Dilma Rousseff recebeu da antecessora, ou seja, dela mesma. O
voluntarismo que marcou o primeiro governo abandonou regras elementares
de política econômica, aumentou a intervenção do Estado no
funcionamento de mercados, forçou a queda de alguns preços e adiou o
reajuste de outros para evitar que os índices de inflação refletissem a
realidade em ano eleitoral.
O preço dos combustíveis, incluindo o
diesel, e o valor cobrado nos pedágios rodoviários fizeram parte do
cardápio de analgésicos e panos quentes. Mas, como o dinheiro não aceita
desaforos, a conta teria que ser paga mais dia menos dia. Neste começo
de ano, ela foi espetada no peito de quem vive do transporte rodoviário,
provocando difícil queda de braço entre o caminhoneiro e as empresas
que pagam o frete.
Sabemos quem vai pagar o prejuízo: o
consumidor da mercadoria transportada. Ou seja, o diesel, o caminhão e o
pedágio são apenas elos de várias cadeias produtivas, que podem começar
numa fazenda e acabar em um supermercado, nascer na mina de ferro e
alimentar a montadora de automóveis. Quanto maior a cadeia, pior o
efeito do ato de segurar artificialmente os preços de um dos elos.
Mesmo
que o consumidor não perceba a ligação entre uma coisa e outra, a conta
de igual trapalhada praticada em outros setores da economia está
batendo forte no bolso. Ontem, o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) divulgou a prévia da inflação de fevereiro, medida
pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) 15. Trata-se da
inflação oficial pesquisada entre os dias 15 de um mês e 14 do mês
seguinte.
O resultado, alta de 1,33%, é preocupante, bem acima da
apurada em janeiro, de 0,89%. Com isso, o índice acumulado em 12 meses
pelo IPCA 15 soma 7,36%, muito longe da meta de 4,5% fixada pelo governo
para este ano. Pior: significa que, em apenas dois meses, a disparada
dos preços engoliu a metade da meta.
É certo que a inflação de
fevereiro carrega a sazonalidade das matrículas e do material escolar.
Este ano não foi diferente: o item teve alta no período de 5,98%. Mas
esse é impacto localizado no tempo e nas famílias com esse tipo de
gasto.
O verdadeiro vilão tem DNA parecido com o do diesel dos
caminhoneiros: a energia elétrica, que reflete o resultado de uma
maiores trapalhadas do primeiro governo Dilma. Em 2012, a presidente foi
à tevê alardear heroica decisão de forçar inédita redução nas contas de
luz. Inadequada e inoportuna, a medida não se sustentou mais que um
ano, abalou o caixa das concessionárias e estimulou o consumo em meio
aos avisos de que havia crise hídrica a caminho.
Resultado:
somente entre a segunda quinzena de janeiro e a primeira de fevereiro, a
energia subiu nada menos do que 7,7% na média nacional, segundo o IBGE,
pesando na inflação do período e sinalizando que as cadeias produtivas
que dependem da energia elétrica (a maioria) vão refletir o aumento de
custos nos próximos meses. Ao fechar as estradas em protesto legítimo,
os caminhoneiros punem a sociedade. Melhor fariam se levassem os
caminhões para a grama do Planalto. Teriam, certamente, mais vítimas da
alta do custo de vida a apoiá-los.
EXTRAÍDO DE AVARANDABLOGSPOT
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