Jornalista Andrade Junior

domingo, 1 de março de 2015

Causas e consequências do isolamento

Carlos Chagas 


Na sua mais recente intervenção política, o Lula recomendou à presidente Dilma levantar a cabeça. Vamos supor a sucessora seguindo o conselho do antecessor. Verá o quê, além da paralisação dos caminhoneiros, da alta nos preços, das generalizadas reações contra a redução de direitos trabalhistas, mais o temor dos partidos de sua base política diante da lista a ser divulgada pelo Procurador-Geral da República por conta dos escândalos na Petrobras? Também verá a insatisfação do PMDB diante do distanciamento do governo, a rebelião no PT, o sentimento de independência do Congresso transformar-se em hostilidade, envolta por sua impopularidade expressa nas recentes pesquisas de opinião. Sem falar nas ameaças de impeachment e num ministério amorfo, insosso e inodoro. Quantos obstáculos e desgraças a mais?
Raras vezes alguém ocupando a presidência da República defrontou-se com tamanho inferno astral, mesmo pouco depois de seu aniversário.
Importa prospectar as razões dessa queda, justo em seguida à reeleição. É preciso ir além de suas características pessoais, como a presunção, a arrogância e a rispidez no trato com os subordinados. O fracasso na função de governar deve-se, basicamente, à incapacidade de compreender e de integrar-se ao Brasil e aos brasileiros. Não somos um quartel, nem uma repartição pública, muito menos um colégio de freiras onde a Madre Superiora impõe suas concepções às freirinhas assustadas. Há quanto tempo Madame não sai à rua como simples cidadã, não vai à praia lotada de gente num dia de sol, não faz compras num centro comercial, não entra num restaurante ou até num botequim, se é que já entrou?
Suas agruras tem raízes no isolamento, tanto faz se por julgar-se superior, dona das verdades absolutas, ou por timidez. Para resumir, falta um sorriso. Uma descontração. A presidente lembra mais o general Ernesto Geisel do que Juscelino Kubitschek, só para referir dois polos opostos de ocupação do poder. Mesmo sem sentir, ela transmite seus sentimentos e sua postura ao país inteiro. Acaba contaminando a maioria. Colhe o que vem plantando, com os olhos voltados para o canteiro, sem levantá-los.
DE ONDE TIRAR O DINHEIRO?
Os ministros, com Joaquim Levy à frente, silenciam quando escutam da grande maioria de parlamentares com quem tem conversado sugestões para ajustar a economia através da criação do imposto sobre grandes fortunas, taxando as remessas de lucro para o exterior, as heranças e até o faturamento dos bancos. Preferem defender a redução de direitos trabalhistas.



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