Rogério Furquim Werneck O Globo
Os desdobramentos do escândalo da Petrobras vão mudar de fase. O
procurador-geral da República está prestes a encaminhar ao Supremo
Tribunal Federal pedidos de abertura de inquérito contra parlamentares,
ministros e governadores envolvidos nas investigações da Operação
Lava-Jato. O jogo ficará bem mais complexo. Tanto para o governo quanto
para o Congresso.
Ainda é difícil vislumbrar, com um mínimo de clareza, em que medida essa
nova fase poderá tumultuar o quadro político do país e afetar os
limites e possibilidades da condução da política econômica. Mas já é o
momento de tentar analisar o que poderá ocorrer.
No governo, há quem alimente a esperança de que a lista de parlamentares
implicados sirva para enfraquecer o PMDB, pôr fim à rebelião que
prospera na sua bancada no Congresso e restaurar a confiabilidade do seu
apoio parlamentar.
Mas há também quem tema que, ao propiciar percepção avassaladoramente
concreta da real extensão do alcance do petrolão, a lista de políticos
implicados possa tornar os desdobramentos do escândalo da Petrobras
ainda mais desgastantes para o Planalto.
Não são possibilidades mutuamente exclusivas. É bem possível que a lista
enfraqueça, em alguma medida, o PMDB e, ao mesmo tempo, fragilize o
governo e o impeça de reconstituir uma base parlamentar confiável.
Com exceção do cenário róseo e pouco crível em que a lista ajudaria a
restaurar a ascendência do Planalto sobre o Congresso, o que se
vislumbra são evoluções do quadro político que poderão trazer sérios
problemas para a condução da política econômica. E que tenderão a
agravar ainda mais as dificuldades que o governo já enfrenta no
Congresso para, de um lado, aprovar as medidas de ajuste fiscal e, de
outro, impedir a aprovação de medidas impensadas.
O governo não tem conseguido esconder sua tensão com a perspectiva de
agravamento do quadro político que poderá se seguir à divulgação da
lista de envolvidos no petrolão. No Planalto e no PT, os nervos estão à
flor da pele. Basta ter em conta a desajuizada conclamação feita pelo
ex-presidente Lula, há poucos dias, em um conturbado ato em defesa da
Petrobras no Rio: “Quero paz e democracia, mas eles não querem. Mas
também sabemos brigar. Sobretudo quando o Stédile colocar o exército
dele nas ruas.”
Crescem no governo os sinais de desalento com a possibilidade de
aprovação do pacote fiscal, sem desfigurações, quando nem mesmo a
bancada do PT se dispõe a respaldá-lo.
Tendo em vista as vertiginosas quedas de popularidade e de imagem que
enfrenta a presidente, não falta quem, a cada dia, tente convencê-la de
que pode ser desavisado apostar as parcas fichas que lhe restam num
longo processo de ajuste macroeconômico, cujos frutos, com sorte, só
poderão começar a ser colhidos em algum ponto remoto de 2016.
Alarmada agora com a possível escalada das dificuldades que deverão
emanar do petrolão, a presidente Dilma parece ter decidido dar por
encerrado seu modesto esforço de reconhecimento de erros cometidos na
gestão da política econômica. Certa de que não é mais o momento de fazer
mea-culpa e, sim, de cerrar fileiras com os velhos escudeiros do
primeiro mandato, Dilma decidiu dar o dito por não dito na anunciada
substituição do presidente do BNDES.
Pesados e medidos os custos e benefícios, a presidente confirmou que
Luciano Coutinho deverá permanecer no cargo, mesmo tendo em conta o
papel central que desempenhou no desastroso retrocesso fiscal dos dois
últimos mandatos presidenciais. Pouco ou nenhum peso parece ter sido
dado ao efeito deletério que tal confirmação poderia vir a ter sobre a
credibilidade da promessa de mudança do regime fiscal neste segundo
mandato. Péssimo sinal.
Temendo que, com o governo fragilizado pelo petrolão, a persistência no
programa contemplado por Joaquim Levy possa se tornar insustentável,
Dilma parece estar deixando espaço para um recuo. O que ainda não
percebeu é que, a esta altura, caso queira se livrar de Levy, a rota de
escape que lhe resta é ainda pior que a da “sarneyzação”.
MATÉRIAEXTRAÍDADEROTA2014
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