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12:08
ANDRADEJRJOR
DEMÉTRIO MAGNOLI folha de são paulo
A história não é a hora. Dilma vai passar, cedo ou tarde. Ela não vale o preço da redução do Brasil a um Paraguai
O
governo Dilma 2 acabou antes de começar. Batida pelo turbilhão da crise
que ela mesma engendrou, a presidente perdeu, de fato, o poder, que é
exercido por dois primeiros-ministros informais: Joaquim Levy comanda a
economia; Eduardo Cunha controla as rédeas da política. Na oposição,
entre setores da base aliada e, sobretudo, nas ruas, a palavra
impeachment elevou-se, de murmúrio, à condição de grito ainda abafado. É
melhor pensar de novo, para não transformar o Brasil num imenso
Paraguai.
Nos sistemas parlamentares, um voto de desconfiança do
Parlamento derruba o gabinete, provocando eleições antecipadas. No
presidencialismo paraguaio, regras vagas de impeachment conferem aos
congressistas a prerrogativa de depor um chefe de Estado que não
enfrenta acusações criminais. Um parecer de Ives Gandra Martins sustenta
a hipótese de impedimento presidencial por improbidade administrativa,
mesmo sem dolo. Na prática, equivale a sugerir que Dilma poderia ser
apeada com a facilidade com que se abreviou o mandato de Fernando Lugo. A
adesão a essa tese faria o Brasil retroceder do estatuto de moderna
democracia de massas ao de uma democracia oligárquica latino-americana.
Não
são golpistas os cidadãos que fazem circular o grito abafado. Dilma
Rousseff tornou-se um fardo pesado demais. Lula deu o beijo da morte no
segundo mandato da presidente ao lançar sua candidatura para 2018 antes
ainda da posse. No ato farsesco de "defesa da Petrobras", o criador da
criatura emitiu sinais evidentes de que, em nome de sua campanha
plurianual, prepara-se para assumir o papel um tanto ridículo de crítico
do governo. Diante de uma presidente envolta na mortalha da solidão, os
partidos oposicionistas parecem aguardar uma decisão das ruas. Fariam
melhor oferecendo um rumo político para a indignação popular.
Antes
de tudo, seria preciso dizer que, na nossa democracia, a hipótese de
impeachment só se aplica quando há culpa e dolo. O complemento honesto
da sentença é a explicação de que, salvo novas, dramáticas, informações
da Lava Jato, inexiste uma base política e jurídica sólida para abrir um
processo de impedimento da presidente. Contudo, só isso não basta, pois
o país não suportará mais quatro anos de "dilmismo", essa mistura
exótica de arrogância ideológica, incompetência e inoperância.
"Governe
para todos --ou renuncie!". No atual estágio de deterioração de seu
governo, a saída realista para Dilma é extrair as consequências do
fracasso, desligando-se do lulopetismo e convidando a parcela
responsável do Congresso a compor um governo transitório de união
nacional. O Brasil precisa enfrentar a crise econômica, definir a
moldura de regras para um novo ciclo de investimentos, restaurar a
credibilidade da Petrobras, resgatar a administração pública das
quadrilhas político-empresariais que a sequestraram. É um programa e
tanto, mas também a plataforma de um consenso possível.
"Governe
para todos --ou renuncie!". O repto é um exercício de pedagogia
política, não uma aventura no reino encantado da ingenuidade. As
probabilidades de Dilma romper com o lulopetismo são menores que as de
despoluição da baía da Guanabara até a Olimpíada. Isso, porém, não forma
uma justificativa suficiente para flertar com o atalho do impeachment.
Se a presidente, cega e surda, prefere persistir no erro, resta
apontar-lhe, e a seu vice, a alternativa da renúncia, o que abriria as
portas à antecipação das eleições.
Dilma diz que a culpa é de
FHC. Lula diz que é da imprensa, enquanto reúne-se com o cartel das
empreiteiras. A inflação fará o ajuste fiscal. Por aqui, os camisas
negras usam camisas vermelhas. A justa indignação da hora faz do
impeachment uma solução sedutora. Mas a história não é a hora. Dilma vai
passar, cedo ou tarde. Ela não vale o preço da redução do Brasil a um
Paraguai.
extraídadeavarandablogspot
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