Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Péssimo para a democracia

Editorial do Estadão:

A pesquisa do Ibope que mostra o aumento da rejeição a todos os principais líderes políticos, revelada com exclusividade por José Roberto de Toledo em sua coluna no Estadão, é uma notícia muito ruim para todos os nomes citados e péssima para a democracia no país. A desconfiança dos brasileiros em relação aos políticos em geral – plenamente justificada pela miséria moral que predomina nesse ambiente – pode contaminar e expor a graves riscos o sistema democrático tão duramente reconquistado há três décadas, na medida em que se aprofunda o sentimento de orfandade dos brasileiros em relação a sua representação política.
O dado individualmente mais significativo da pesquisa revela que desde maio do ano passado aumentou substancialmente, de 33% para 55%, o número de pessoas que dizem que não votariam de jeito nenhum em Lula para presidente da República. É uma progressão que traduz claramente a decepção dos brasileiros com o populismo lulopetista, a partir de dois fenômenos principais facilmente identificáveis: primeiro, a crise econômica agravada pela incompetência da gestão de Dilma Rousseff com o consequente malogro da insustentável política de amplo incentivo ao consumismo, em prejuízo dos investimentos em bens sociais. Depois, a gota d’água: as mentiras escandalosamente usadas pelo marketing eleitoral petista para garantir a reeleição da presidente no ano passado.
Lula já deve se ter dado conta de que o brasileiro não é idiota e não está mais disposto a se deixar enganar por suas promessas de promover felicidade por decreto, ilusão pela qual a própria Dilma Rousseff se deixou conduzir no embalo da incompetência de seu indisfarçável autoritarismo intervencionista. Mas a enorme queda de popularidade de Lula e de Dilma está ligada a causas que, nesses 12 anos do nefasto governo petista, acabaram contaminando todo o sistema político com a generalização e a intensificação do fisiologismo enquistado na gestão da coisa pública. A máquina do poder e seu sistema de sustentação política apodreceram moralmente por obra e graça de Lula e da voracidade de sua tigrada, provocando a desmoralização da chamada classe política, inclusive a oposição, que sempre esteve longe de se comportar com a coragem e a lucidez necessárias para representar quase a metade dos brasileiros, de acordo com o resultado das últimas eleições. O sintoma mais evidente da desmoralização dos políticos é o fato de que a insatisfação e a revolta dos brasileiros com a incompetência e os desmandos do governo passaram a ser diretamente manifestadas, nas ruas, com o apoio de organizações não partidárias espontaneamente geradas pela conjuntura adversa.
De acordo com o Ibope, cresceu menos, mas também aumentou, em alguns casos muito significativamente, o número dos brasileiros que não votariam em Aécio Neves, de 42% para 47%; em Marina Silva, de 31% para 50%; em José Serra, de 47% para 54%. Sem dado comparativo, estão também em níveis altos as rejeições a Geraldo Alckmin e Ciro Gomes, empatados em 52%. Fica claro, portanto, que as principais lideranças que se apresentaram como alternativa ao lulopetismo nos três últimos pleitos presidenciais estão longe de empolgar o eleitor, prova de que não foram capazes de demonstrar, em mais de uma década, que estão preparadas para fazer melhor ou corrigir os muitos equívocos de Lula & Cia. Não são suficientemente dignos, enfim, da confiança dos brasileiros e, na melhor das hipóteses, à falta de novas opções, só podem ser considerados menos piores do que os petistas.
Esse quadro de desesperança – causa e efeito do grave impasse político que paralisa o país – representa séria ameaça à estabilidade do sistema democrático porque oferece oportunidade – vide a eleição de Collor em 1989 – para o surgimento e a ascensão de figuras dispostas a prometer o que for necessário para chegar ao poder. Como reação à farsa comandada por Lula, já se verifica na composição do Congresso Nacional eleito um ano atrás o fortalecimento de bancadas suprapartidárias conservadoras ou corporativas dispostas a promover retrocessos em conquistas importantes da sociedade moderna. É mais um malefício a ser debitado à irresponsabilidade do lulopetismo.








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