Editorial do Estadão:
A pesquisa do Ibope que mostra o aumento da
rejeição a todos os principais líderes políticos, revelada com
exclusividade por José Roberto de Toledo em sua coluna no Estadão,
é uma notícia muito ruim para todos os nomes citados e péssima para a
democracia no país. A desconfiança dos brasileiros em relação aos
políticos em geral – plenamente justificada pela miséria moral que
predomina nesse ambiente – pode contaminar e expor a graves riscos o
sistema democrático tão duramente reconquistado há três décadas, na
medida em que se aprofunda o sentimento de orfandade dos brasileiros em
relação a sua representação política.
O dado
individualmente mais significativo da pesquisa revela que desde maio do
ano passado aumentou substancialmente, de 33% para 55%, o número de
pessoas que dizem que não votariam de jeito nenhum em Lula para
presidente da República. É uma progressão que traduz claramente a
decepção dos brasileiros com o populismo lulopetista, a partir de dois
fenômenos principais facilmente identificáveis: primeiro, a crise
econômica agravada pela incompetência da gestão de Dilma Rousseff com o
consequente malogro da insustentável política de amplo incentivo ao
consumismo, em prejuízo dos investimentos em bens sociais. Depois, a
gota d’água: as mentiras escandalosamente usadas pelo marketing
eleitoral petista para garantir a reeleição da presidente no ano
passado.
Lula já deve se ter dado conta de que o
brasileiro não é idiota e não está mais disposto a se deixar enganar por
suas promessas de promover felicidade por decreto, ilusão pela qual a
própria Dilma Rousseff se deixou conduzir no embalo da incompetência de
seu indisfarçável autoritarismo intervencionista. Mas a enorme queda de
popularidade de Lula e de Dilma está ligada a causas que, nesses 12 anos
do nefasto governo petista, acabaram contaminando todo o sistema
político com a generalização e a intensificação do fisiologismo
enquistado na gestão da coisa pública. A máquina do poder e seu sistema
de sustentação política apodreceram moralmente por obra e graça de Lula e
da voracidade de sua tigrada, provocando a desmoralização da chamada
classe política, inclusive a oposição, que sempre esteve longe de se
comportar com a coragem e a lucidez necessárias para representar quase a
metade dos brasileiros, de acordo com o resultado das últimas eleições.
O sintoma mais evidente da desmoralização dos políticos é o fato de que
a insatisfação e a revolta dos brasileiros com a incompetência e os
desmandos do governo passaram a ser diretamente manifestadas, nas ruas,
com o apoio de organizações não partidárias espontaneamente geradas pela
conjuntura adversa.
De acordo com o Ibope, cresceu menos, mas
também aumentou, em alguns casos muito significativamente, o número dos
brasileiros que não votariam em Aécio Neves, de 42% para 47%; em Marina
Silva, de 31% para 50%; em José Serra, de 47% para 54%. Sem dado
comparativo, estão também em níveis altos as rejeições a Geraldo Alckmin
e Ciro Gomes, empatados em 52%. Fica claro, portanto, que as principais
lideranças que se apresentaram como alternativa ao lulopetismo nos três
últimos pleitos presidenciais estão longe de empolgar o eleitor, prova
de que não foram capazes de demonstrar, em mais de uma década, que estão
preparadas para fazer melhor ou corrigir os muitos equívocos de Lula
& Cia. Não são suficientemente dignos, enfim, da confiança dos
brasileiros e, na melhor das hipóteses, à falta de novas opções, só
podem ser considerados menos piores do que os petistas.
Esse quadro de desesperança – causa e efeito
do grave impasse político que paralisa o país – representa séria ameaça à
estabilidade do sistema democrático porque oferece oportunidade – vide a
eleição de Collor em 1989 – para o surgimento e a ascensão de figuras
dispostas a prometer o que for necessário para chegar ao poder. Como
reação à farsa comandada por Lula, já se verifica na composição do
Congresso Nacional eleito um ano atrás o fortalecimento de bancadas
suprapartidárias conservadoras ou corporativas dispostas a promover
retrocessos em conquistas importantes da sociedade moderna. É mais um
malefício a ser debitado à irresponsabilidade do lulopetismo.
extraídadacolunadeaugustonunesopiniãoveja
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