por Reinaldo Azevedo Folha de São Paulo
A semana foi sacudida por duas prisões estrepitosas: a de José Carlos Bumlai, pecuarista e faz-tudo de Lula, e a de Delcídio do Amaral (PT-MS),
que prestou um favor ao ineditismo: nunca antes na história
"destepaiz", um senador havia ido em cana no exercício do mandato. Dilma
estava se preparando para virar de lado e, quem sabe?, tirar uma
soneca. Não vai conseguir. O alarido das vocações criminosas não deixa.
Não sou petista, não gosto do partido e lastimo a maioria de suas
escolhas. Como sou um liberal, acho que suas opções estratégicas, ainda
que fossem pautadas pela mais angelical honestidade, estão erradas.
Assim, eu me oporia –como indivíduo sem partido– aos petistas ainda que
estes fossem inocentes como as flores.
Isso não me impede de reconhecer que o partido deu relevo a demandas
reais da sociedade e que os mais pobres tiveram, nesses anos, ganhos
efetivos –e os mais ricos não têm do que reclamar. A renda do trabalho
cresceu, e, por óbvio, o Bolsa Família amenizou as agruras dos extremos
da pobreza.
Agora vem o meu fascínio às avessas, a minha estupefação. Era possível
fazer tudo isso sem roubar. Era possível fazer tudo isso sem quebrar a
economia do país. Era possível fazer tudo isso sem destruir as contas
públicas. Era possível fazer tudo isso sem corromper a esperança de
milhões de pessoas.
Cabe, sim, discutir o que permitiu ao PT ser um pouco mais ousado do que
os governos que o antecederam na distribuição de renda; também é
pertinente saber se os fatores que concorreram para tal feito eram ou
não de sua escolha. Mas isso não anula a evidência.
Vamos lá. Amigos que não têm simpatia pelo PT, mas que, à diferença
deste escriba, não o abominam, já me censuraram por meus supostos
"exageros". Um deles disse certa feita: "Você trata os petistas como se
eles fossem assaltantes da democracia, e eles não são; afinal, seguem as
regras".
Pois é... Esse amigo certamente me lê agora. Bem... Eles não seguem as regras.
Ainda que larápios em penca tenham usado suas posições de poder para o
enriquecimento pessoal, o assalto ao Estado e aos cofres só se deu
porque, desde o princípio, o PT nunca teve a democracia como um valor
inegociável. Mensalão e petrolão são expressões não de uma concepção,
mas de uma prática golpista. E isso não tem nada a ver com inserir ou
excluir pobres da economia.
Na quarta, o PT emitiu uma nota entregando Delcídio às feras.
Rui Falcão, que defende João Vaccari com unhas e dentes (não há outro
modo...), se diz "perplexo". O texto se trai e se revela de modo
espetacular. Está lá: "Nenhuma das tratativas atribuídas ao senador tem
qualquer relação com sua atividade partidária (...). Por isso mesmo, o
PT não se julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade".
NA MOSCA!
Leia-se de outro modo: todas as "tratativas" de Vaccari dizem, sim,
respeito às suas "atividades partidárias". Daí vem a "solidariedade".
É precisamente com esse critério que Marcola comanda o PCC. Crime em
benefício pessoal é pecado de lesa irmandade. Crime em nome da
organização prepara o berço dos heróis.
É claro que há diferenças entre os dois entes. O PCC não se organiza
para assaltar o Estado e a institucionalidade. São males absolutos, mas
distintos. A ética abstrata é que os aproxima. Como não diria Janio de
Freitas, a nota do PT é coisa de "trombadão".
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