por Bernardo Mello Franco Folha de São Paulo
O Senado evitou um suicídio institucional ao acatar a prisão de Delcídio
do Amaral. Se mandasse soltar o petista, a Casa incitaria a revolta na
sociedade e compraria uma briga inglória com o Supremo Tribunal Federal.
As provas contra Delcídio são incontestáveis. Ele tramou a fuga de um
preso e prometeu usar sua influência para anular delações da Lava Jato.
Além disso, ofereceu suborno para calar uma testemunha que deve
incriminá-lo no petrolão.
A tentativa de obstruir o processo foi tão clara que o ministro Teori
Zavascki não hesitou em decretar sua prisão. A decisão foi referendada
pela segunda turma do Supremo, que percebeu a grave ameaça à imagem e à
autoridade do Judiciário.
Apesar da solidez das provas, o Senado ensaiou uma operação para livrar
Delcídio da cadeia. A tentativa de resgate foi liderada pelo presidente
Renan Calheiros, um dos principais investigados da Lava Jato.
O peemedebista traçou um plano simples: os senadores decidiriam o futuro
do petista em votação secreta, sem prestar contas aos eleitores. Com
isso, Delcídio teria chances razoáveis de ser libertado.
Num apelo ao corporativismo, Renan insinuou que o Supremo usurpou
poderes do Legislativo e chegou a dizer que a prisão do petista,
decidida à luz do dia e com base na lei, não teria sido "democrática".
O discurso foi endossado pelo incorrigível Jader Barbalho, que evocou o
nome de Deus e declarou que os senadores não precisam ser fiscalizados
pela opinião pública. Ele acrescentou que já passou por "lutas" e
"dificuldades". É verdade: em 2002, foi preso e algemado pela PF.
"O que está em jogo neste momento é a vida da instituição, é a vida do
Senado Federal", alertou Jader, na tentativa de convencer os colegas a
proteger Delcídio. Por instinto de sobrevivência, a maioria dos
senadores entendeu o aviso de outra forma. A prisão foi confirmada em
votação aberta e por ampla margem: 59 a 13.
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