por Nelson Motta O Globo
Por sua história pessoal e por todas as declarações, até de adversários
políticos, o senador Delcídio Amaral era gente finíssima, muito querido
por todos, por sua cordialidade e simpatia, sua inteligência e educação,
seu espírito tolerante e conciliador. Sem acusar ou julgar ninguém, são
os primeiros requisitos de um canalha profissional para ganhar a
confiança de suas vítimas e poder aplicar seus golpes. Não dá para ser
grosso e arrogante e pretender a simpatia e confiança necessárias para
exercer sua canalhice.
Também não se deve tripudiar sobre os caídos, mas se o bom e velho
Delcídio, com seu look de Vovó Donalda e todas essas qualidades, fez o
que fez, imaginem o que fizeram e fazem os suspeitos de sempre, com suas
caras de bandido do tipo Jader, Cunha, Renan, Collor, Sarney, Lobão,
que não há plástica ou botox, nem implante ou tintura de cabelos que
disfarcem, pelo contrário, os tornam ainda mais grotescos e revelam a
feiura de suas almas opacas, em contraste com o brilho cafajeste de seus
ternos.
Tive um tio muito querido, inteligente e cínico, que sempre dizia que o
problema dos governos brasileiros é que, com raras exceções, os
talentosos e competentes geralmente são desonestos, e os honestos e bem
intencionados são incompetentes e acabam dando mais prejuízo do que os
ladrões. Não viveu para ver os governos petistas, mas o tempo lhe deu
razão.
Assim como o doce Delcídio, o banqueiro André Esteves é a própria imagem
do bom moço honesto e competentíssimo, que inspirava absoluta confiança
na praça, e tanto que tantos aplicavam suas economias no seu banco de
investimentos e ninguém nunca perdeu dinheiro.
Deveria ter ouvido a advertência do ex-presidente uruguaio Pepe Mujica
em um evento junto com Lula, que fingiu que não ouviu: “Quem gosta muito
de dinheiro não deve se meter em política”. Agora, levado pela ambição e
pela vaidade, está preso e humilhado, mas quem mandou se meter com
politícos?
No “Retrato de Dorian Gray”, Oscar Wilde diz que “só os tolos não julgam pelas aparências.”
Há controvérsias. A Lava-Jato está questionando até Oscar Wilde.
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