por Fernando Canzian Folha de São Paulo
Se 2015 está sendo marcado por forte inflexão no desempenho positivo dos últimos anos no mercado de trabalho, no aumento do rendimento e na distribuição da renda, 2016 está programado para nos levar cada vez mais longe no caminho inverso.
O problema de fundo segue intocado: 2015 previa superavit nas contas públicas de R$ 55 bilhões (1% do PIB). Podemos fechar o ano com deficit de R$ 52 bilhões (0,9% do PIB).
Será o maior rombo da história e não inclui as chamadas "pedaladas fiscais" de 2014. O deficit maior fará crescer o endividamento.
Não há no mundo país emergente com selo de bom pagador com grau de endividamento superior a 70% do PIB. Chegaremos lá em meados de 2016.
A regra é clara: a dívida aumenta como em nossa casa. No Brasil, cada ponta corre para lados opostos. A receita cai abruptamente e o gasto continuará a subir, inexoravelmente.
A queda na arrecadação de impostos vem se agravando mês a mês e acumula -4,5% entre janeiro e outubro. Só em outubro (sobre out./2014) a redução foi de 11,3%, o pior outubro desde 2009, no auge da crise internacional.
A Receita Federal constata que a paralisia na economia "está alcançando todas as empresas" (100 mil grandes e 1,2 milhão pequenas e médias) sem "nenhum setor que não esteja sendo afetado pela contração da atividade".
Do lado da despesa, cerca de 70% dos gastos estão indexados à inflação. São principalmente despesas ligadas à área social baseadas no salário mínimo. Por sua vez, corrigido pela alta de preços, girando em 10% ao ano.
A crise que parece complexa se trata disso: receita caindo e despesa subindo. Sem mais imposto emergencial e mudanças na Constituição que aumentem a receita e reduzam os gastos indexados não há saída.
Não há o que inventar; trocar ministro não resolve.
Como sempre, os agentes do mercado financeiro entenderam primeiro. As empresas, um pouco depois.
A agonia é a ficha ainda cair tão lentamente entre os políticos.
extraidaderota2014blogspot
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