editorial de O Globo
É num momento de relativa baixa da Operação Lava-Jato, quando se espera
que um recurso do Ministério Público ao Supremo reveja o fatiamento de
seu trabalho, que, na sua 21ª fase, ela aprofunda as investigações da
organização criminosa montada no lulopetismo para drenar recursos
públicos em estatais, com o objetivo de financiar campanhas de
políticos, projetos de poder e de enriquecimento pessoal. Na
terça-feira, a primeira ação desta fase, batizada sintomaticamente de
Passe Livre, deteve em Brasília o pecuarista José Carlos Bumlai, cujo
nome constava da portaria do Planalto, na gestão Lula, para ter acesso
sem burocracias ao presidente Lula. Segundo o lulopetismo, Bumlai se
aproveitou da proximidade de Lula para usar o nome dele em negócios. O
ex-presidente nega laços tão estreitos no relacionamento entre os dois.
A prisão de Bumlai pela Polícia Federal tem a ver com um desses
negócios, a exótica operação pela qual um empréstimo de R$ 12,1 milhões
feito pelo banco Schain a Bumlai foi quitado num troca-troca em que o
Grupo Schain, sem qualquer experiência no ramo, assinou com a Petrobras
um contrato de US$ 1,6 bilhão para operar um navio-sonda por 20 anos.
Algo que extravasa todos os limite da sensatez. Tudo, segundo a
acusação, para Bumlai transferir o dinheiro ao PT, a fim de o partido
saldar dívidas. Mais um caso de privatização criminosa de recursos
públicos.
A fase Passe Livre da Lava-Jato aproxima as investigações do
ex-presidente Lula, contra quem, alerta um cautelo Sérgio Moro, juiz de
Curitiba que trata do caso, não há qualquer prova. Mas existe
desconforto no lulopetismo e no próprio governo Dilma, amplificado pelas
prisões da manhã de ontem: a primeira da História de um senador da
República, Delcídio do Amaral (PT-MS), líder do governo; do banqueiro
André Esteves, do BTG Pactual, de perfil empresarial agressivo, tendo
feito negócios bilionários na área da Petrobras; e do advogado Edson
Ribeiro, contratado pelo ex-diretor internacional da estatal Nestor
Cerveró.
Delcídio, André Esteves e Edson Ribeiro são acusados de tentar impedir
as investigações da PF e do Ministério Público, em torno da atuação de
Cerveró, ainda preso em Curitiba, um personagem central na escandalosa
compra pela Petrobras da refinaria de Pasadena, uma das fontes de
dinheiro para a distribuição de propinas.
A detenção específica do senador, protegido por foro especial, foi
aprovada pelo ministro Zavascki, da 2ª Turma do Supremo, e relator dos
processos da Lava Jato que chegam ao STF. Depois, os ministros restantes
avalizaram a decisão de Zavascki — Cármen Lúcia, Gilmar Mendes, Dias
Toffoli e Celso de Mello.
Teve impacto a divulgação da gravação feita pelo filho do ex-diretor da
Petrobras, Bernando Cerveró, de conversas de Delcídio sobre a trama para
que Nestor não prestasse “colaboração premiada”, nada dissesse e saísse
do país ao ser libertado. São citadas gestões junto a ministros do
Supremo, como o próprio Teori e Edson Fachin, contra a Lava-Jato. Também
se discutem a rota de fuga de Cerveró por jatinho rumo a Espanha, e uma
mesada de R$ 50 mil para o ex-diretor.
O voto por unanimidade da 2ª Turma pode ser decifrado como uma resposta
dos ministros aos conspiradores. Muita coisa mais, porém, deve vir por
aí, numa fase da Lava-Jato em que o ex-presidente Lula é tirado do
segundo plano e começa a ficar mais visível em toda essa história.
Do impeachment do presidente Collor, em 92, até hoje, as instituições
não pararam de ganhar músculos. Neste sentido, o mensalão também foi um
momento especial. E mais ainda tem sido no petrolão, em que estão
envolvidos muitos políticos em cargos importantes e de folha corrida de
peso. Não pode haver recuo nesse processo de afirmação da República no
país. O desfecho de tudo precisa servir de divisor de águas, a partir do
qual não haverá mesmo dúvidas de que todos são iguais perante a
Constituição.
extraídaderota2014blogspot
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