por Nizan Guanaes Folha de São Paulo
Eu acredito em Papai Noel. Mesmo depois de, aos seis anos, um coleguinha
estraga-prazeres ter me contado a mentira de que ele não existe, eu
continuei acreditando.
Os empreendedores todos acreditam em Papai Noel. São crianças grandes, que acreditam em coisas mágicas e impossíveis.
Afinal, os homens sensatos se adaptam ao mundo. Os homens insensatos
tentam adaptar o mundo a eles. Isso significa que todo o progresso da
ciência se deve aos homens insensatos –os empreendedores.
Os caras que acreditam em Papai Noel são os que mudam o mundo, constroem
empresas, fazem a humanidade avançar. Marcel Herrmann Telles, da
Brahma, acreditou em Papai Noel, acreditou muito. Ele sempre dizia,
brincando, que um dia ia comprar a Budweiser. As pessoas normais não
acreditavam nisso. Mas Marcel acreditou em Papai Noel, e o bom velhinho
ouviu seus pedidos.
Eu acredito em Papai Noel. E quem acredita em Papai Noel acredita em
coisas que não existem. Por isso mesmo, eles fazem existir coisas que
até então não existiam.
Walt Disney acreditava em Papai Noel. Ele acreditou num rato. Você acha
que um ser humano normal vai acreditar num rato? Vai fazer um império
baseado em uma coisa nojenta? Isso não passa em pré-teste. Pois Disney,
grande acreditador do bom velhinho, acreditou no rato e fez coisas
inacreditáveis a partir do Mickey.
Eu acredito em Papai Noel. Acreditei a vida inteira.
Nasci no Pelourinho, numa casa de cimento batido e sem água encanada. A
gente aquecia a água no fogão, botava num latão e usava uma cuia para se
banhar. A chance de eu estar onde estou hoje era uma em mil, no mínimo.
E quem me trouxe até aqui foi a crença em Papai Noel e em coisas
mágicas, que só a fé vê.
Acredito em Papai Noel. Pedi coisas a ele a vida inteira. Pedi sucesso
em São Paulo como publicitário, e não é que o Washington Olivetto me
levou para a DPZ?
Pura magia.
Empurrado por sonhos, fui crescendo e fazendo coisas que só os
sonhadores fazem. Porque os sonhos me levaram a ter meu próprio negócio,
a conquistar prêmios, contas –a conquistar o mundo. E a fazer coisas
que só se pode fazer sonhando.
Guga e eu abrimos nossa agência, a DM9, em setembro de 1989 com
investimento do Banco Icatu. Em março de 1990, o Plano Collor levou todo
o nosso dinheiro. Sobrou o quê? O sonho. E foi o sonho que nos trouxe
até aqui.
O sonho levou o menino pobre do Pelourinho a lugares que ele jamais
poderia sonhar. Papai Noel tem vários nomes. Sonho grande, fé,
esperança, imaginação, superação, poder da mente.
Para mim, Papai Noel não mora no polo Norte. Mora naquele lugar da mente
e da alma onde as coisas comuns, os lugares-comuns e os homens comuns
não chegam.
Papai Noel mora na alma de Steve Jobs, de Mark Zuckerberg, nos olhos do
cara que criou o Netflix. Gênios empreendedores, eternas crianças. Que
homem sério batizaria a sua empresa de "maçã"? Só um acreditador de
Papai Noel.
É verdade que, com o tempo, minha cartinha a Papai Noel foi ficando mais
ambiciosa. Antes eu pedia coisas, depois fui pedindo coisas
complicadas, como ter um sonho de criança, ter paz de espírito. Agora
estou pedindo netos.
Claro que, para ser atendido, você tem de ser um bom menino, fazer
coisas boas, sonhar coisas belas e mágicas. Os empreendedores são
aqueles que acreditam em Papai Noel e por isso ganham mais do que
presentes. Eles fazem o futuro.
Feliz Natal empreendedores. Feliz Natal acreditadores em Papai Noel.
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