Jornalista Andrade Junior

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

"Buenos dias, Argentina",

por Vinicius Torres Freire Folha de São Paulo

Dizer que os argentinos elegeram um governo de direita sugere que o kirchnerismo-peronismo fosse de esquerda. De cara, nota-se pois que essa discussão não vai dar em nada sensato, até porque o sistema político argentino está em caquinhos mistos desde 2001.
A "virada", a derrota de "12 anos de populismo", como se diz, sugere que Mauricio Macri fará mudanças "liberais", embora o adjetivo seja sofisticado demais para o desmonte das aberrações contraproducentes de Cristina. Sugere que o desmonte será imediato. Macri diz que não vai ser assim. Nem é prudente, em termos sociais, políticos e econômicos.
Problema mais imediato: o país está quebrado. Não tem reservas internacionais nem fontes regulares de financiamento externo. Reservas são ativos em moeda forte, "dólares" guardados em um banco central para fins tais como intervenção no mercado de câmbio e despesas em caso de seca de entrada de capitais (pagar importações e dívida externa).
Oficialmente, a Argentina tem US$ 26 bilhões de reservas. "No". Argentinos sensatos estimam que sobra algo perto de US$ 6 bilhões. Paga um mês de importações. Um desastre.
Não entram dólares bastantes pelo comércio porque a economia está em pandarecos. O governo mantém o dólar barato a fim de evitar mais inflação (também gastando reservas, para tanto). Assim, os produtos argentinos ficam caros demais e importar fica barato. O dólar oficial custa 9,70 pesos; o paralelo, uns 15.
Para piorar, fundos abutres dificultam a solução do calote da dívida argentina, com o que o país está fora do mercado internacional de crédito e capitais.
O governo limita também a quantidade de dólares que se podem comprar. Desse modo, as empresas têm dificuldade de importar máquinas e matérias-primas (a produção para ou piora) ou se endividam no exterior (não pagam importações porque o governo não libera dólares). Além do mais, o governo limita exportações de certos produtos agrícolas, para segurar preços no mercado doméstico.
A inflação está alta porque, em suma, o governo tem deficit crescentes desde 2011, os quais financia de modo primitivo: imprime dinheiro. A inflação ronda os 27%, o dobro da oficial (o governo manda no IBGE deles, tanto que as estatísticas argentinas não fazem mais parte das bases de dados internacionais).
O deficit cresceu desde 2011 por causa do aumento de gastos com subsídios para serviços públicos (90% da despesa serve para baratear eletricidade, gás e transporte). Anda pela casa de 5% do PIB, mesmo valor dos subsídios.
O governo gastou mais também em aposentadorias, em aumento explosivo do número de servidores e em bolsas sociais.
Macri vai desvalorizar o peso, liberar o mercado de câmbio e cortar gastos com subsídios. Não deve fazer tudo de uma vez, pois o país pode quebrar e o pau pode quebrar nas ruas.
De 2011 a 2014, a Argentina cresceu perto de 0,5% (o Brasil, 8,7%). Deve crescer nada em 2015 (o Brasil vai encolher 3%). Em 2014, a economia era 20% menor que a paulista, com população parecida. Pobres não são. Mas não vão aguentar sem mais uma mudança no tranco (embora inevitável), até porque parte da população estava bem iludida pelos remendos insustentáveis de Cristina.
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