por Miriam Leitão O Globo
André Esteves sempre foi considerado um menino prodígio. Com quatro anos
de mercado, já era sócio do Pactual. Depois, fez seu próprio banco,
comprou o Pactual e é um bilionário. O que o levou a se envolver no tipo
de negócio que o colocou na prisão? Delcídio Amaral achava que poderia
controlar o Supremo, organizar a fuga de um preso e desmontar a
Lava-Jato. O que faz alguém achar que tem esse poder?
A conspiração em que se envolveram o líder do governo no Senado, seu
chefe de gabinete, o dono do oitavo maior banco brasileiro, o advogado
de um ex-diretor da Petrobras é realmente espantosa. Para usar uma
expressão do pedido de prisão: “é induvidoso” que eles tentavam acabar
com a Lava-Jato. O áudio mostra claramente que a ideia era essa: ir
desmontando as peças de acusação, conseguir um habeas corpus para Nestor
Cerveró e tirá-lo do Brasil. Já se sabia a rota de fuga e a aeronave.
A “grana” viria de André Esteves, e ele ganharia com isso o mesmo que
Delcídio: o silêncio de Cerveró. O banco BTG Pactual é grande e tem
ficado cada vez maior. Tem operação em 20 países do mundo. É o oitavo
maior banco do país, com R$ 154 bilhões de ativos. Se sair da lista o
HSBC, que já anunciou o fim das operações no Brasil, o BTG passa para
sétimo. Ou seja, está atrás apenas dos gigantes Banco do Brasil,
Bradesco, Itaú, Caixa Econômica, BNDES e Santander. Seu patrimônio
líquido dobrou em um período de quatro anos. Saiu de R$ 8,5 bilhões em
2011 para R$ 18,6 bilhões em 2014. Cerca de 38% das receitas da
instituição vieram do exterior em 2014, segundo balanço do banco. Era,
até ontem, uma história de sucesso no mercado bancário brasileiro.
O temor no mercado financeiro, que fez desabar em 21% as ações da
instituição num só dia, é que aconteça uma corrida de saques, e o banco
tenha problemas de solvência. Isso poderia causar instabilidade e
provocar um efeito cascata. Por essa razão o Banco Central avisou que
está monitorando o que se passa na instituição. O próprio BTG Pactual
comunicou ontem que fará uma operação de recompra.
Há alguns anos o BTG-Pactual passou a se aproximar da administração
petista. Em 2011, ele salvou o governo da aflitiva situação em que
estava. Um caso até hoje não explicado e que ninguém foi punido. A Caixa
havia comprado por R$ 740 milhões, em 2009, 49% do Banco PanAmericano,
do empresário Silvio Santos, e logo depois se descobriu que o banco
estava quebrado. O enorme rombo foi pago por empréstimo de R$ 3,8
bilhões do Fundo Garantidor do Crédito. Foi quando entrou André Esteves.
Pagou R$ 450 milhões ao FGC, que considerou liquidada a dívida de R$
3,8 bilhões. Toda a operação evitou a situação absurda de a Caixa ter
que ficar com bens indisponíveis por ser acionista de um banco em que
houve fraude contábil.
Esse caso acima não tem relação com o que o banqueiro é agora acusado.
Mas foi um momento decisivo de aproximação entre o BTG e o governo, e
ele passou a ser sócio da Caixa. Depois disso, virou sócio da Petrobras
em negócios aqui e no exterior. Mas são inúmeras suas áreas de
interesses da instituição. Por isso, o temor das consequências em
cascata que podem ocorrer nos próximos dias.
No caso do senador Delcídio Amaral o impacto imediato é no ritmo das
votações das medidas do ajuste fiscal e até na aprovação da meta fiscal
para 2015. Era ele que falava com todas as correntes e poderia conseguir
avançar a pauta do governo.
As prisões de ontem afetaram a economia e a política. A despeito disso,
confirmaram que a Operação Lava-Jato avança de forma segura, mas
destemida. Diante de provas indiscutíveis, pediu a prisão de acusados de
terem tramado a fuga de um dos presos e tentarem obstruir a
investigação. A sem cerimônia com que o senador Delcídio foi gravado
falando da sua convicção de ter convencido ministros do Supremo, entre
eles o ministro Teori Zavascki, o próprio a quem foi dirigido o pedido
de prisão, deixou o Supremo sem alternativa.
O que leva um banqueiro a pagar propina para ter uma rede de postos de
gasolina? O que leva um senador que escapou por pouco de outras
acusações a achar que pode manipular o STF? É o “escárnio”, como disse a
ministra Carmen Lúcia.
extraídaderota2014blogspot
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