Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

"A complexidade moral do brasileiro",

 por Leão Serva Folha de São Paulo

Ver na imprensa a cobertura de manifestações pró-aborto pode dar a impressão de que a sociedade brasileira é majoritariamente contrária aos congressistas que querem aumentar as restrições atuais à interrupção artificial da gravidez. Embora barulhenta, a militância não representa o sentimento da opinião pública, bem ao contrário.
Uma pesquisa destinada a medir os valores morais dos brasileiros constatou que a repulsa ao aborto é líder absoluta entre os comportamentos condenados (com nota 8,31), mais que o dobro do segundo colocado (bater em uma mulher, com 3,8) e do terceiro lugar (não prestar socorro a vítimas de acidente, 3,18).
Os que costumam atribuir ao brasileiro uma índole coerente com os mandamentos da Igreja Católica vão achar alguma comprovação no índice elevado de condenação a blasfêmia ("falar mal ou reclamar de Deus", 2,47) e ao mesmo tempo se surpreender com o alto índice de aceitação do divórcio (nota 0,08), do homossexualismo (0,17) ou do adultério (0,47).
A pesquisa "Moral e Ética: Quais os Valores que Norteiam os Brasileiros?" é coordenada pelo sociólogo Rodrigo Toni, que foi diretor geral do instituto Ipsos no Brasil e na Ásia até fundar o Flyfrog, que se dedica a pesquisas de mercado com uso de tecnologias de ponta. O levantamento usou a internet para acessar os entrevistados e fez ponderação da população conforme o Censo de 2010 para distribuição regional, por renda e idade.
Para expressão de apoio ou condenação a comportamentos que são tema de debates na sociedade, o levantamento excluiu os crimes indiscutidos (como assassinato e roubo) e submeteu aos entrevistados grupos de frases entre as quais deveriam apontar as mais graves. A técnica, denominada "Max Diff", permite produzir rankings de repulsa ou aceitação em grandes conjuntos de itens de qualquer natureza. O resultado é uma tabela em que a nota 1 expressa equilíbrio; acima de 1, recusa; abaixo, aceitação.
A equipe de Toni submeteu aos entrevistados, em sistema de rodízio, 34 atitudes como: furar fila; pagar propina para evitar multa; comprar produtos importados sem pagar imposto; comprar mercadoria sabidamente roubada; consumir álcool e dirigir; maltratar animais; ter relações homossexuais; usar drogas; trair namorado(a) ou cônjuge; fazer aborto; separar ou divorciar etc.
O sociólogo atribui a campanhas de conscientização pública a alta rejeição à agressão a mulheres (Lei Maria da Penha), à homofobia ou ao racismo. E atribui à influência religiosa o fato de a blasfêmia (2,47) ser considerada mais grave do que xingar ou maltratar alguém por orientação sexual, raça ou etnia (1,7).
Ele chama atenção também para o fato de que comportamentos condenados em homens públicos (como a corrupção dos grandes escândalos que ocupam o noticiário) sejam aceitos quando ocorrem no âmbito pessoal, como se vê pelas notas abaixo de 1 para aceitar propina (0,86), votar em político corrupto (0,86), pagar um guarda para evitar uma multa (0,6) ou transferir pontos da carteira de motorista (0,19). "Nossa sociedade precisa avançar muito em noções de cidadania, respeito a leis", diz Rodrigo Toni.
O levantamento reforça a visão de que o Congresso expressa o pensamento do brasileiro. Inclusive pela facilidade com que avançam as restrições às formas permitidas de aborto.
extraídaderota2014blogspot

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