por Leão Serva Folha de São Paulo
Ver na imprensa a cobertura de manifestações pró-aborto pode dar a
impressão de que a sociedade brasileira é majoritariamente contrária aos
congressistas que querem aumentar as restrições atuais à interrupção
artificial da gravidez. Embora barulhenta, a militância não representa o
sentimento da opinião pública, bem ao contrário.
Uma pesquisa destinada a medir os valores morais dos brasileiros
constatou que a repulsa ao aborto é líder absoluta entre os
comportamentos condenados (com nota 8,31), mais que o dobro do segundo
colocado (bater em uma mulher, com 3,8) e do terceiro lugar (não prestar
socorro a vítimas de acidente, 3,18).
Os que costumam atribuir ao brasileiro uma índole coerente com os
mandamentos da Igreja Católica vão achar alguma comprovação no índice
elevado de condenação a blasfêmia ("falar mal ou reclamar de Deus",
2,47) e ao mesmo tempo se surpreender com o alto índice de aceitação do
divórcio (nota 0,08), do homossexualismo (0,17) ou do adultério (0,47).
A pesquisa "Moral e Ética: Quais os Valores que Norteiam os
Brasileiros?" é coordenada pelo sociólogo Rodrigo Toni, que foi diretor
geral do instituto Ipsos no Brasil e na Ásia até fundar o Flyfrog, que
se dedica a pesquisas de mercado com uso de tecnologias de ponta. O
levantamento usou a internet para acessar os entrevistados e fez
ponderação da população conforme o Censo de 2010 para distribuição
regional, por renda e idade.
Para expressão de apoio ou condenação a comportamentos que são tema de
debates na sociedade, o levantamento excluiu os crimes indiscutidos
(como assassinato e roubo) e submeteu aos entrevistados grupos de frases
entre as quais deveriam apontar as mais graves. A técnica, denominada
"Max Diff", permite produzir rankings de repulsa ou aceitação em grandes
conjuntos de itens de qualquer natureza. O resultado é uma tabela em
que a nota 1 expressa equilíbrio; acima de 1, recusa; abaixo, aceitação.
A equipe de Toni submeteu aos entrevistados, em sistema de rodízio, 34
atitudes como: furar fila; pagar propina para evitar multa; comprar
produtos importados sem pagar imposto; comprar mercadoria sabidamente
roubada; consumir álcool e dirigir; maltratar animais; ter relações
homossexuais; usar drogas; trair namorado(a) ou cônjuge; fazer aborto;
separar ou divorciar etc.
O sociólogo atribui a campanhas de conscientização pública a alta
rejeição à agressão a mulheres (Lei Maria da Penha), à homofobia ou ao
racismo. E atribui à influência religiosa o fato de a blasfêmia (2,47)
ser considerada mais grave do que xingar ou maltratar alguém por
orientação sexual, raça ou etnia (1,7).
Ele chama atenção também para o fato de que comportamentos condenados em
homens públicos (como a corrupção dos grandes escândalos que ocupam o
noticiário) sejam aceitos quando ocorrem no âmbito pessoal, como se vê
pelas notas abaixo de 1 para aceitar propina (0,86), votar em político
corrupto (0,86), pagar um guarda para evitar uma multa (0,6) ou
transferir pontos da carteira de motorista (0,19). "Nossa sociedade
precisa avançar muito em noções de cidadania, respeito a leis", diz
Rodrigo Toni.
O levantamento reforça a visão de que o Congresso expressa o pensamento
do brasileiro. Inclusive pela facilidade com que avançam as restrições
às formas permitidas de aborto.
extraídaderota2014blogspot
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