ROGÉRIO FURQUIM WERNECK ESTADÃO
Lula vem arguindo que o “prazo de validade” de Joaquim Levy venceu. Que, fixado na ideia de ajuste fiscal, o ministro acabou aferrado a um discurso de desesperança, impossível de vender. Embora o ajuste fiscal ainda esteja por ser feito, Lula acha que é hora de ter à frente do Ministério da Fazenda alguém que se disponha a adotar políticas de estímulo à demanda, que permitam ao governo vender esperança e alardear que já é possível vislumbrar a retomada da economia.
O ex-presidente está convencido de que Meirelles é o nome perfeito para desempenhar esse papel. Mas Dilma resiste. A presidente nunca se deu bem com Meirelles. Oito anos de penosa convivência dos dois, quando ambos ocupavam posições destacadas no governo Lula, só reforçaram essa falta de empatia.
Por ser isso tão notório, Dilma tem consciência de que ceder a mais essa investida do ex-presidente seria a confirmação definitiva de que já não há mais limites para a intervenção de Lula em seu governo. Um passo desajuizado para uma presidente que luta desesperadamente para se manter no cargo.
Ademais, Dilma não parece estar convencida de que a guinada de política econômica preconizada por Lula seja acertada. Na posição delicada em que a presidente se encontra, seu cálculo político já não se confunde com a de seu mentor. E, mesmo que estivesse convencida, ainda teria boas razões para se perguntar se Meirelles estaria de fato disposto a levar adiante o que Lula tem em mente.
Que Henrique Meirelles não confia em Dilma Rousseff parece mais do que claro. Se confiasse, não teria exigido carta branca para nomear toda a equipe econômica, como vem sendo noticiado. Entre seus muitos entreveros com Dilma Rousseff, ao longo dos dois governos Lula, Meirelles certamente não terá se esquecido de abril de 2008, quando, na esteira de uma conspirata desenvolvimentista orquestrada pela Fazenda e pela Casa Civil, quase foi ejetado do Banco Central.
Acabou salvo pelo gongo, em 30 de abril daquele ano, quando se soube que a agência Standard & Poor’s havia elevado a classificação de risco do país a grau de investimento. Com Lula eufórico com o “momento mágico” em que Brasil havia sido “declarado um país sério”, a conspiração teve de ser abortada, e Meirelles ganhou longa sobrevida no cargo. Atravessou todo o período em que a política econômica passou a ser conduzida sob a bandeira da nova matriz. E chegou incólume ao final do segundo mandato de Lula.
Não estivessem na difícil situação em que se meteram, Lula e Dilma estariam plenamente de acordo quanto ao perfil do ministro que gostariam de ver na Fazenda. E prefeririam Barbosa a Meirelles. Mas tanto Dilma como Lula bem sabem que, a esta altura, a nomeação de Nelson Barbosa para a Fazenda pode ser a gota d’água.
O que Lula contempla, agora, é a possibilidade de que alguém com a reputação de Meirelles se disponha a fazer boa parte do que Barbosa faria na Fazenda. Mas estará Meirelles disposto a desempenhar esse papel?
Em face das dificuldades de convencer Meirelles a se juntar a um governo quase desenganado, para conduzir uma política econômica em que não acredita, Lula já não sabe o que mais lhe prometer. Em coluna no “Valor” de 11/11, Cristiano Romero mencionou que emissários de Lula chegaram até a acenar com a ideia de Meirelles vir a ter no governo Dilma a trajetória que FH teve no governo Itamar, sugerindo que seu sucesso como ministro da Fazenda poderia lhe levar à Presidência da República.
Por maiores que sejam suas ambições políticas e por mais envaidecido que possa ter ficado com o vaticínio de um final de carreira tão triunfal, é difícil que Meirelles se deixe seduzir por tal miragem. Mas impossível não é. A natureza humana é uma inesgotável caixa de surpresas.
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