por Ruy Castro Folha de São Paulo
Enquanto, em Paris, o tiroteio terrorista no Bataclan se confundia com o
som produzido por uma banda de rock –difícil distinguir uma coisa da
outra–, no Brasil os 62 bilhões de metros cúbicos de rejeitos químicos
sob responsabilidade de uma mineradora prosseguiam na sua trajetória de
destruição por 500 quilômetros de Minas Gerais e Espírito Santo. Pela
situação até agora, os efeitos da tragédia francesa se farão sentir por
muitos anos. Os da brasileira, talvez para sempre.
Lá fora, o controle e a paranoia azedarão as relações humanas. A
cordialidade dará lugar à desconfiança. Ter olhos e cabelos pretos, com
ou sem barba, bastará para produzir um suspeito. Homens de bem levarão
geral à luz do dia no meio da rua. A xenofobia, já latente,
recrudescerá. Países outrora adoráveis poderão se tornar Estados
policiais. Se esses forem os objetivos do terror, já estão sendo
alcançados.
Aqui, o descaso, a fiscalização ridícula e as verbas "contingenciadas"
geraram a morte de um curso d'água do porte do rio Doce e a quebra de
uma cadeia de fauna, flora e recursos hídricos. Milhões de brasileiros
serão afetados. Se a lama tóxica chegar ao mar, tomará santuários
ecológicos, como Abrolhos, na Bahia; se outras barragens se romperem,
como se teme, destruirão as cidades históricas mineiras. É possível
pagar por isto?
O presidente francês François Hollande devia estar cochilando ao ignorar
as advertências que lhe fizeram sobre possíveis atentados. Mas, assim
que eles aconteceram, acordou e assumiu o comando. Já Dilma levou sete
dias para despertar da letargia e sobrevoar a região desgraçada. Ninguém
a aconselhou a dar uma rápida, mesmo que burocrática, satisfação ao
país.
Na Europa, cedo ou tarde, o terror será derrotado. Mas, no Brasil, a inépcia parece invencível.
extraídaderota2014blogspot
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