por Ruy Castro Folha de São Paulo
Os sociólogos, como sabemos, vieram ao mundo para nos explicar por que
as coisas são como são. Por isso, outro dia recorri a um deles para me
dizer por que, num país tão farto em ladrões, um dos mais simpáticos e
poéticos desaparecera: o ladrão de galinhas.
A culpa foi da especulação imobiliária, ele me disse. Com a substituição
das casas pelos edifícios e o fim dos quintais, acabaram-se os
galinheiros domésticos. E, sem eles, não pode haver ladrões de galinhas.
Daí minha surpresa ao ler sobre o furto de 25 codornas poedeiras no
quintal de uma casa em Selvíria, no Mato Grosso do Sul. Um jovem chamado
Jocimar, acusado do crime, foi a julgamento e tomou um ano de prisão.
Nas várias idas e vindas do caso pelo Tribunal de Justiça, Ministério
Público e STJ (Superior Tribunal de Justiça), Josimar foi absolvido,
condenado e absolvido de novo.
Foi então que me dei conta de que esse caso aconteceu em 2001, mas só
agora, nesta quarta-feira, chegou ao STF (Supremo Tribunal Federal), que
o finalizou. Os ministros Carmen Lúcia e Dias Toffoli condenaram
Josimar, mas Gilmar Mendes, Teori Zavascki e Celso de Mello aplicaram o
princípio da insignificância e votaram pela absolvição. Josimar é hoje
não apenas um homem livre, mas o último ladrão de galinhas vivo do país.
Merecia um estudo.
Nesta mesma quarta, talvez na mesma sessão, o STF tomou a decisão
histórica de mandar prender o senador petista Delcídio do Amaral, por
acaso também do Mato Grosso do Sul, por tentar subornar o ex-diretor
internacional da Petrobras Nestor Cerveró, para ele não abrir o bico, e
ajudá-lo a fugir para a Espanha.
Nos velhos filmes ingleses e americanos, o sujeito dava um golpe lá fora
e vinha se esconder no Brasil. Agora é diferente: o sujeito dá um golpe
no Brasil e vai se esconder lá fora. Preciso achar um sociólogo que me
explique isso.
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