Pedro do Coutto
Com base no quadro estatístico publicado pelo O Globo no caderno de economia, as cadernetas de poupança estão perdendo – e vão fechar 2015 perdendo – por 10 a 7 por cento, com base na taxa oficial de inflação. A questão é simples: de novembro de 2014 a novembro deste ano, portanto ao longo de doze meses, o índice inflacionário atingiu 9,9 por cento. No mesmo período, as contas de poupança apresentam uma rentabilidade máxima de 7 por cento, levando-se em conta o cálculo à base dos montantes mensais. O mesmo prejuízo envolve também as contas dos empregados no FGTS. Só que um pouco mais acentuado, já que os saldos do Fundo de Garantia são corrigidos em velocidade menor que os das cadernetas. Gostaria que os companheiros deste site Flávio José Bortolotto e Wagner Pires se pronunciassem a respeito da matéria.
O resultado, em termos sociais, é extremamente negativo. Pelo que estou informado, o saldo geral das cadernetas, apesar das reduções mensais que têm ocorrido, situa-se na escala de 700 bilhões de reais. Ora, uma diferença de 3 pontos acarreta, em números reais absolutos, uma evasão anual da ordem de 21 bilhões de reais. Esse volume de dinheiro desloca-se para onde? Para o sistema bancário, evidentemente, Melhor dizendo: para os banqueiros. O mesmo processo verifica-se quanto às perdas verificadas no FGTS.
Portanto, em vez de distribuição de renda, vemos, de fato, uma concentração de renda cada vez maior. Gostaria que Bortolotto e Pires informassem aos leitores o saldo global do Fundo de Garantia. Não consegui saber.
PERDAS DOS TRABALHADORES
Trata-se de revelação importante para que se tenha uma idéia ainda mais ampla de a quanto somam as perdas dos trabalhadores. E não sé dos empregados, o que já é fundamental. Também do próprio governo, que, em função das perdas da poupança e do Fundo de Garantia vê evaporarem-se recursos precisos para seu programa de investimentos, sem o qual o consumo não se recupera dos abalos que atingem o setor essencial para o desenvolvimento do país. Tão interessado em recriar a CPMF, em busca de uma receita anual que projeta na escala de 32 bilhões de reais, o ministro Joaquim Levy deveria, isso sim, preocupar-se com os recuos das disponibilidades das cadernetas e do FGTS.
A queda do consumo é um fato, como revela Ana Paula Ribeiro em reportagem publicada na edição de quarta-feira de O Globo. Comprovada pela diminuição da renda do trabalho. Recuou nada menos de 42 bilhões de 2014 para 2015 nas seis maiores regiões metropolitanas do país. Esta informação tem origem, por sua vez, em pesquisas realizadas pelo IBGE e também pelo Santander. No caso de especialistas deste banco, a perspectiva para 2016 permanece negativa, o que colide com o falso otimismo que, volta e meia, marca afirmações divulgadas pela equipe econômica do governo Dilma Rousseff.
REALIDADE E FANTASIA
Portanto, mais uma vez a realidade se afirma diante da fantasia. Resolve os problemas no papel é algo simples, sem dúvida. Basta apresentar projetos bem elaborados na teoria. Porém, como dizia o antigo senador Benedito Valadares, a teoria na prática é outra coisa. O papel, e agora as telas dos computadores, aceitam os números previstos e as soluções imaginadas. Tudo perfeito. Só que a realidade que atinge a população acaba sempre se impondo. As perdas das cadernetas de poupança e do FGTS são duas delas. Perdas essenciais, acrescente-se de passagem.
extraídadetribunadainternet
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