Jornalista Andrade Junior

terça-feira, 24 de novembro de 2015

"Cabeça na bola",

por Ruy Castro Folha de São Paulo

É o começo do fim para nós, brasileiros, ex-praticantes do melhor futebol do mundo. Os EUA proibiram que suas crianças de 11 a 13 anos cabeceiem bolas em jogos e treinos, para evitar os traumas que seus médicos têm identificado nos jogadores profissionais. Com isso, os meninos e meninas americanos irão se aperfeiçoar ainda mais na troca de passes com a bola rente à grama, até a invasão da área e o chute a gol.
Nós, ao contrário, continuaremos adeptos daquilo que, no passado, nos fazia zombar dos europeus: o chuveirinho, o centro despretensioso sobre a área, à espera de que um dos nossos meta a testa na bola antes do adversário, que está absoluto, de frente para o lance. Talvez fosse o caso de os médicos proibirem que se cabeceiem bolas também por aqui.
O argumento dos americanos é que, sendo os jogadores de hoje mais altos e atléticos, mais bolas são disputadas pelo alto, o que aumentou o risco de encontros violentos de cabeça. Pode ser verdade. Nunca se viram tantos choques como ultimamente. Nas crianças, com suas estruturas ósseas e nervosas incompletas, isso seria ainda mais perigoso.
Sem falar nos contatos entre a cabeça e a bola –as cabeçadas propriamente ditas–, responsáveis, segundo os médicos, por concussões na massa cerebral causadoras de ETC (encefalopatia traumática crônica) ou "síndrome do pugilista". Bellini, zagueiro e capitão do Vasco, da seleção brasileira e do São Paulo entre 1958 e 1966, morto em 2014 depois de anos com sintomas semelhantes aos do Alzheimer, pode ter sido uma das vítimas.
Dos 5 aos 15 anos, joguei milhares de peladas. Como era péssimo com a bola nos pés, esforçava-me no jogo aéreo –talvez cabeceasse umas 15 bolas por pelada. A bola de então pesava o dobro da atual. Não sei como, aqui estou, com a massa que me restou. 








extraídaderota2014blogspot

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