por Ruy Castro Folha de São Paulo
É o começo do fim para nós, brasileiros, ex-praticantes do melhor
futebol do mundo. Os EUA proibiram que suas crianças de 11 a 13 anos
cabeceiem bolas em jogos e treinos, para evitar os traumas que seus
médicos têm identificado nos jogadores profissionais. Com isso, os
meninos e meninas americanos irão se aperfeiçoar ainda mais na troca de
passes com a bola rente à grama, até a invasão da área e o chute a gol.
Nós, ao contrário, continuaremos adeptos daquilo que, no passado, nos
fazia zombar dos europeus: o chuveirinho, o centro despretensioso sobre a
área, à espera de que um dos nossos meta a testa na bola antes do
adversário, que está absoluto, de frente para o lance. Talvez fosse o
caso de os médicos proibirem que se cabeceiem bolas também por aqui.
O argumento dos americanos é que, sendo os jogadores de hoje mais altos e
atléticos, mais bolas são disputadas pelo alto, o que aumentou o risco
de encontros violentos de cabeça. Pode ser verdade. Nunca se viram
tantos choques como ultimamente. Nas crianças, com suas estruturas
ósseas e nervosas incompletas, isso seria ainda mais perigoso.
Sem falar nos contatos entre a cabeça e a bola –as cabeçadas
propriamente ditas–, responsáveis, segundo os médicos, por concussões na
massa cerebral causadoras de ETC (encefalopatia traumática crônica) ou
"síndrome do pugilista". Bellini, zagueiro e capitão do Vasco, da
seleção brasileira e do São Paulo entre 1958 e 1966, morto em 2014
depois de anos com sintomas semelhantes aos do Alzheimer, pode ter sido
uma das vítimas.
Dos 5 aos 15 anos, joguei milhares de peladas. Como era péssimo com a
bola nos pés, esforçava-me no jogo aéreo –talvez cabeceasse umas 15
bolas por pelada. A bola de então pesava o dobro da atual. Não sei como,
aqui estou, com a massa que me restou.
extraídaderota2014blogspot
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